A Educação sem telas é um modelo de criação que tem ganhado repercussão e adeptos devido ao avanço significativo das tecnologias no cotidiano das famílias e à consequente exposição das crianças às telas digitais. O modelo desestimula o uso de aparelhos eletrônicos durante a infância e incentiva formas alternativas de entretenimento.

Sobre o assunto, o CadaMinuto conversou com a psicopedagoga clínica e coordenadora do Núcleo de Experiência Discente (NED) da Unima Alagoas, Verônica Wolff, que explicou a importância de restringir o uso de aparelhos eletrônicos na educação infantil.

Ela afirma que as famílias precisam ficar atentas com o tempo e a idade com os quais as crianças são expostas ao uso de tecnologia.

Verônica esclarece que os motivos que levam a exposição excessiva das crianças à tecnologia de telas são a praticidade e a correria. "A correria da vida da maioria das famílias faz com que nos submetamos a entreter as crianças de uma forma prática, rápida e sem volume e nada melhor, para o momento da correria, do que o uso do celular."

Para a psicopedagoga, a tecnologia faz parte da vida cotidiana das pessoas, incluindo as crianças. Ela argumenta que apesar do ganho significativo de raciocínio nos pequenos com o uso das tecnologias, essa utilização deve ser controlada. "As crianças precisam estar no convívio social com as famílias e com as outras pessoas."

A especialista aponta que durante a idade escolar, é necessário que os pais direcionem as atividades da criança, moderando entre práticas escolares, esportivas, sociais e com a família.

"A criança que fica muito tempo no celular ou computador começa a não querer mais estar com as pessoas. Somos seres sociais e precisamos estar em contato com as pessoas para contribuir com o nosso desenvolvimento psicossocial como seres humanos", salienta.

Conforme sugere Wolff, os pais devem sempre orientar os filhos em todas as atividades. A profissional destaca que os genitores precisam ter tempo de qualidade com as crianças, pois eles são os espelhos e as referências dos filhos.

"Precisamos estar juntos e montarmos boas memórias mesmo que isso aconteça apenas num espaço pequeno de tempo durante o dia. A qualidade das nossas ações junto com eles valem mais do que a quantidade", justifica a psicopedagoga.

 

"A gente precisa criar regras mais saudáveis"

 

Ao CadaMinuto, a psicóloga hospitalar e terapeuta cognitivo comportamental, Nilma Melo, explica quais os principais benefícios de uma educação sem telas e os prejuízos do uso excessivo. Para ela, muitos deles estão relacionados às funções cognitivas da criança.

Foto: Cortesia/ Nilma Melo

Nilma conta que entre os benefícios para a criança estão a questão da concentração, as habilidades, sejam elas motoras ou manuais, as interações sociais com o meio em que ela está inserida, trabalho em equipe, se comunicar melhor com outras pessoas, estímulo a criatividade e imaginação sem depender de telas.

"A gente sabe que hoje existem brincadeiras e outras formas de educar que trazem as crianças para mais perto da família e de outros ambientes", revela.

A psicóloga também argumenta que o uso de telas gera uma dependência e problemas no desenvolvimento da criança. "Um exemplo muito claro que a gente tem hoje é quando os pais saem com crianças para restaurantes. A gente vê muita criança sentada na mesa fazendo o uso do celular e ali não existe uma interação com essa família".

Ela esclarece que dificuldades cognitivas e psicomotoras, alterações do sono, além de problemas na fala, na alimentação e na visão podem ser sinais de que a criança está enfrentando problemas relacionados ao uso excessivo de telas.

"Essa criança pode desenvolver insônia, pode se tornar mais estressada, mais cansada durante o dia, pode apresentar problemas de postura, porque fica sentada em qualquer local ou deitada também fazendo uso do celular, do computador ou da televisão. Tudo isso a gente consegue perceber através do comportamento que está sendo apresentado", pontua.

Por fim, a terapeuta comportamental compartilha que, na sua opinião, não é necessário eliminar por completo o uso de telas na vida das crianças, mas sim uma utilização com limites e monitorização.

 

“Conseguimos nos envolver muito mais no seu universo”

 

Ao CadaMinuto, o empresário Felipe Melo relata sua experiência como pai ao optar pelo modelo de educação sem telas para a filha. Ele explica que não pretende privá-la para sempre das telas, mas tem como objetivo, mesmo com ela mais velha, fazer isso de forma moderada.

Foto: Cortesia/ Felipe Melo

"Desde a gravidez, minha esposa e eu conversamos muito sobre a questão da tela na primeira infância. Hoje, há mais informações sobre o impacto negativo que elas têm no desenvolvimento do bebê e como isso afeta a capacidade de concentração e percepção do ambiente ao seu redor", revela.

Para ele, a abordagem de educação sem telas proporciona mais qualidade na relação com a filha. "Conseguimos nos envolver muito mais em seu universo, o que é gratificante não apenas para ela. Espero que ela tenha uma relação mais saudável com o mundo na idade adulta".

Felipe e sua esposa afirmam que o atual formato das mídias sociais contribui para o aumento da ansiedade e a dificuldade em construir e interpretar narrativas. "Na minha opinião, a tela entrega uma narrativa pronta, não deixando espaço para a imaginação da criança".

O empresário explica que, para manter a filha entretida, gosta de ler livros com ela e de realizar brincadeiras no chão. Ele diz que tenta se divertir com ela nesses momentos e evita utilizar seu próprio celular perto dela.

Por fim, Felipe conta que enfrenta muitos desafios para manter esse modelo de educação, especialmente nas viagens de carro. Ele enfatiza que, mesmo no cotidiano, é uma tarefa que exige dedicação e atenção constantes, algo que demanda um esforço maior.

"Temos dias em que estamos mais dispostos e dias em que nos falta ânimo. Essa é uma decisão que, para ser efetiva, requer consistência e a ausência de exceções. Sem romantizar a decisão, é muito trabalhoso e difícil mantê-la", compartilha o pai.

Estagiária sob supervisão da Editoria*