Marta Lemos,  pedagoga alagoana  escreve:

Em época como a nossa, marcada pela intolerância religiosa, pela homofobia, pelo despeito ao outro, não é incomum encontrarmos nas propostas pedagógicas das escolas, que em sua missão está a garantia do acesso e da permanência de todos, propondo para isso, ser uma escola acolhedora, promotora da igualdade e do respeito às diversidades: de cor, raça, gênero e credo. Verdadeiros simulacros, na maioria das escolas, servem apenas para cumprir demandas burocráticas. Não são textos para serem cumpridos.

Nas andanças em várias escolas, o que percebemos é que o respeito à diversidade se cumpre de acordo com os valores de grupos específicos. A liberdade de crença? Pode, se sua fé não ferir os valores desse grupo, do contrário, a liberdade existe: às escondidas, no silêncio, no medo de ser rotulado, sofrer discriminação e ser excluído socialmente, isso acontece, principalmente com as religiões de matriz africana.

Voltemos assim ao questionamento inicial, quais vidas cabem dentro da escola? Pelas ações e omissões, somente vidas que se “encaixam” ao modelo do colonizador, visto que a intolerância religiosa atinge muito mais aos praticantes de religiões de matriz africana. Assim, as religiões decoloniais, continuam sendo postas à margem, sendo silenciadas, estigmatizadas. Seus seguidores sendo perseguidos ou silenciados. Palavras que possam lembrar seus rituais proibidas, arrancadas do espaço escolar. A escola, que se propõe acolher – exclui! Que pretende ser promotora da igualdade – desrespeita os diferentes e o espaço escolar dá continuidade aos colonizadores e escravagistas: catequizando, estigmatizando, proibindo. 

Marta Lemos

Pedagoga