Graciliano Ramos governou Palmeiras do Índios há mais de 90 anos. Seu legado foi minuciosamente descrito em dois relatórios de gestão que possuem princípios, que até hoje são válidos, de como os prefeitos deveriam agir ao iniciar a gestão. Há época e hoje a situação se repete pelo país. Prefeituras sem recursos suficientes, com o quadro de servidores inchado ou no mínimo desequilibrado e, com pouca transparência, controle e eficiência dos atos de despesa pública.
Assim, o velho Graça deixou pelo menos duas grandes lições: evitar o aparelhamento da máquina administrativa e privilegiar ações que gerem resultados na melhora de vida dos cidadãos. Um bom prefeito é aquele que se destaca não apenas por sua capacidade de liderança, mas também por sua dedicação incansável ao bem-estar e ao progresso de sua cidade. Entretanto, temos visto uma ode ao exibicionismo nas redes sociais que vem sendo usada muito mais para inflar os feitos da gestão do que para dar transparência as ações públicas.
O papel de um prefeito deve ir além das decisões políticas e administrativas, deve ser um catalisador de mudanças positivas, um defensor dos direitos dos cidadãos e um exemplo de comprometimento com a melhoria da qualidade de vida de todos os habitantes. Para isso é necessário ouvir a comunidade, por meio de diálogo aberto, reuniões públicas e canais de comunicação acessíveis, para garantir que as políticas e decisões reflitam as verdadeiras necessidades e aspirações do povo.
Quando se aproxima dos problemas e busca soluções com uso da tecnologia, dos dados e da inovação se aproxima mais do gestor 4.0, pois terá uma exata compreensão das necessidades de sua cidade. O uso de ferramentas preditivas e o desenvolvimento de planos estratégicos de longo prazo com metas realistas e alcançáveis também estão no ferramental deste tipo de gestor que visa um permanente processo de transformação da sua cidade para melhor.
Mobilidade urbana é um dos grandes desafios para as cidades nos próximos cinco, dez, vinte anos, pois afeta diretamente a qualidade de vida das pessoas e a saúde econômica da cidade. O prefeito instagramável fará apenas ações perfunctórias midiáticas que só irão piorar a situação com o tempo. Não usa dados, não busca soluções de engenharia de trânsito, apenas o tradicional achismo e o velho método de tentativa erro.
Já o gestor 4.0 irá atuar fortemente nesta dimensão durante a sua gestão se quiser ser reconhecido como bom gestor público pelos cidadãos e aumentar sua chance de reeleição. Vai pensar a mobilidade urbana como mobilidade para as pessoas e acessibilidade para as mercadorias. Esta segunda parte é normalmente esquecida e aos poucos vem matando as atividades econômicas das cidades brasileiras em processos lentos de anorexia.
A transparência e a integridade são marcas registradas do prefeito 4.0. Ele sempre mantém os cidadãos informados sobre decisões importantes, orçamento municipal e projetos em andamento. Já o prefeito instagramável buscará sempre realizar uma gestão calcada em shows, eventos e muita propaganda paga. Não se preocupa com a transparência orgânica da gestão nem com a implantação de programas de integridade e combate a corrupção.
Um prefeito 4.0 é um líder acessível e inclusivo procurando sempre construir coalizões para alcançar resultados positivos e duradouros. Já o instagramável tem uma atitude narcisista demonstrando pouco compromisso com a justiça social. Um gestor 4.0 irá fazer investimentos que serão lembrados por muitos anos, pois melhoraram a vida das pessoas. Deixa um legado que muda o patamar de atendimento as pessoas.
É normal, com o passar dos anos, lembrar desse gestor por ter entregue esta ou aquela obra ou ter implementado este ou aquele programa. Já o instagramável verá a lembrança de sua gestão evaporar mais rápido do que o éter.
Em resumo, um bom prefeito transcende o cargo, tornando-se um símbolo de esperança, progresso e cidadania ativa. Sua liderança inspira, unifica e capacita a comunidade a alcançar seu pleno potencial e deixa sempre um legado lembrado através dos anos.
Afinal, seu prefeito é um gestor 4.0 ou instagramável?
George Santoro