A primeira ação que essa ativista realizou como Instituto Raízes de Áfricas foi promover um almoço, em um renomaado restaurante, para crianças da antiga (??) favela da orla lagunar, em Maceió,AL.

Faz 13 anos.

As crianças com suas vestes alinhavadas pelo descaso social, em sua maioria negras,  chegaram esbaforidas, ansiosas, no sexto andar de edifício.

-É a primeira vez que entro em um restaurante pra comer ‘na mesa’- disse uma menina

Abrindo parêntese, pra dizer que essa menina, geralmente, ia pedir restos de comida, nos restaurantes, que “frequentou”.

Foi uma tarde diferente pra todo mundo. Realidades que se impactaram em códigos e posturas.

As crianças se fartaram tanto de comida, que uma outra menina, em torno de 10/12 anos, passou mal e insistia em continuar comendo.

Intervi:- Você não acha que comeu demais?

Ela:- É porque é só hoje, amanhã não tem mais comida. Na minha casa, nunca tem.

-Geladeira sempre vazia? -retrucou essa ativista

E a menina, com um sofrimento atemporal marcando a testa:- Na casa que a gente mora, não tem geladeira, nem fogão, nem água, nem luz. Só colchão, no chão, moça.

Rimas improváveis, de uma infância real, cercada pela miséria.

Alagoas é um estado cujo 37,6% de famílias passa fome.

Gente preta.

-Você, quer que eu arrume uma porção de comida pra você levar pra casa? - perguntei, contrita.

A menina me olhou bem reflexiva:- Eu queria que a senhora arranjasse um emprego para meu pai e minha mãe. Assim podem comprar a comida pra nós comer.

Pluft!

Eureka!

E foi essa menina que, aos 12 anos, com sua dignidade moral, por excelência, que ensinou à essa ativista , a diferença entre caridade pontual  e políticas públicas.

Essa história tem 13 anos.

Para bem além das cestas básicas…

 

Crédito da Foto:Correio Braziliense