Isa Andrade, ou Maria Luísa era determinada em orquestrar grandes e pequenas revoluções.

Pariu um mundo  substantivo de ideias  plurais e crianças no Morro do Carvão (Macaé) e em outros logradouros, do estado do Rio de Janeiro. 

Mãe, amiga, avó e parteira dedicada.

Contam suas companheiras de caminhada , que Isa não media esforços para redesenhar possibilidades e inseri-las, nos ambientes ácidos, dispersos das políticas públicas, urgentes e necessárias.

Como uma verdadeira especialista em promover o bem-estar e a igualdade.

Discutiu, inventou e reinventou estratégias,  como uma maneira proativa de fazer-se ativista aguerrida do movimento negro, desde a mais tenra idade, referenciada pela ancestralidade do pai, Samica.

Sempre perseverante, solidária e resiliente nos seus territórios de atuação, na saúde da população negra e o bem-estar das crianças e adolescentes em situação de rua. 

Seus esforços sociais na luta contra a vulnerabilidade social nas favelas de Niterói foram notáveis, especialmente durante o período da pandemia.

Moradora do Morro do Estado, em Niterói (RJ), estava como Conselheira Estadual de Saúde, Conselheira Municipal de Proteção da Igualdade Racial, integrante do Fórum de Mulheres Negras da cidade, parteira e quilombola. 

E por sua atuação foi escolhida, por unanimidade, pra ser a voz de tant@s na 17ª Conferência Nacional da Saúde, que aconteceu de 2 a 5 de julho, em Brasília (DF)

Isa levou para a Conferência Nacional de Saúde uma bagagem cheia de propostas e reivindicações coletivas. Defendeu-as com unhas e dentes para honrar a confiança posta.

A missão dada foi, regiamente, cumprida. 

Encerrada a atividade Isa deve ter regressado de alma lavada, com a consciência plena de ter participado, ativamente, debatendo, ocupado os espaços políticos do controle social e, como muitas de nós,   ativistas, retroalimentado a alegria do retorno dos grandes debates nacionais,  com a participação das imprescindíveis vozes da sociedade.

O Brasil voltou!!!!!

Mas, o espírito de luta inquebrantável de Isa, se quedou ao tempo, aos desgastes emocionais dos muitos anos produtivos de lutar contra todo um sistema perverso, exclusivista, racista, que nos mata todos os dias.

Isa voou pro Orun, no mesmo dia que voltaria para Niterói, sua casa terrena.

Saindo de mais um espaço de luta, teve um mal súbito no aeroporto de  Brasília, e veio a óbito, causando uma enorme comoção geral, entre entidades do MNU e companheiras de jornada

Morreu no mesmo mês, que dias depois, faria 60 anos.

A vida é um sopro e a morte um sussurro.

Isa  nasceu e morreu no Julho das Pretas, mês de celebração de Teresa de Benguela, quilombola igualzinho ela.

Morreu lutando pelo direito à saúde plena e integral da população negra.

Voou a ativista para o Orun, mas sua vida e obra de histórias de resistência negra deve ser referenciada, para a posteridade, propagada em muitos lugares e , principalmente, nos anais da 17ª Conferência Nacional da Saúde.

Devemos isso a Isa, ministra Nisia Trindade.

Viva, Isa!