Minha mãe, do alto dos seus 91 anos percorreu caminhos, às vezes semidesertos de possibilidades, mundos impávidos e desafiadores, e suas experiências exclusivas, reverberam, de uma maneira ou de outra, na trajetória das filhas.
Claro que teve erros e acertos, (nem tudo é cor-de-rosa), minha mãe traçou caminhos de fuga, no meio de um tempo de escassez alimentar, torturante e aguda, reforçando a sua prole de 9 filhos, principalmente, as 4 filhas, a importância dos estudos:- Estudem para não terminar na cozinha dos brancos.
Minha mãe sabia dos espaços demarcados, pela sociedade, e, com a voz borrada nas bordas, pelo medo, asfixiante, da não existência, insistiu na educação como princípio da emancipação.
Minha mãe precisou, muitas vezes, engolir o choro para que os 9 filhos, que cabiam numa bacia, nem se apequenarem, nem se entristecerem.
Tempos de pobreza, escassez e sonhos adormecidos.
Foi, com essa filha ativista, que minha mãe descobriu que os constrangimentos sofridos ao longo da vida, tentando desmantelar sua autoestima, de maneira aguda, tem o nome de racismo estrutural.
E depois de um passado distante, a criança que eu fui, olha, agora, para a mãe, em sua cadeira na sala da casa, e sente que chegamos a uma mesma linha tênue, na vida: do corpo, que envelhece, entretanto, o espirito do esperançar, retroalimentado todos os dias (resiliência, né?), ganha fôlego e corre, lépido e faceiro, no alcançar os passos , da juventude da minha filha.
Três gerações, assentadas na arquitetura ancestral das pretas.
Salve, Alda Barros, minha mãe, nos seus 91 anos, e especialmente as mães pretas.
Só a gente sabe, o que é celebrar nossas histórias.
Tambores e sons!
Salve!