A prática da musculação é algo que já se tornou comum entre os adultos, mas que, aos poucos, vem se tornando frequente entre os jovens. Mais precisamente entre as crianças.

Só que quando o tema é abordado, a maior dúvida que surge é se as crianças podem mesmo iniciar esse treinamento. De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), a resposta é sim, desde que de forma moderada e com supervisão de um adulto.

Mas será que existe uma idade certa para iniciar a musculação na infância? Quais são os riscos que elas correm? A prática excessiva pode trazer problemas graves para os pequenos? Para o profissional de educação física e personal trainer, Thales Almeida, apesar dos exercícios físicos serem importantes para a saúde do corpo, feito em excesso, os danos podem bem maiores.

“A gente sabe que, com relação a desenvolvimento e melhora da qualidade de vida, saúde, permanecer ativo é uma das melhores maneiras de manter nosso corpo saudável. Melhora o bem estar em geral. Porém, quando se fala em prática excessiva, tudo muda, porque o complica tudo na nossa vida são os excessos. Então quando a gente usa a palavra “excesso”, dificilmente a gente vai ter como destacar um ponto positivo”, disse Thales.

“Então quando a gente usa a palavra “excesso”, dificilmente a gente vai ter como destacar um ponto positivo. Se partir para o excesso, os danos serão bem maiores, os riscos serão maiores, com relação a lesões, e tudo o que acarreta, como por exemplo, o próprio desenvolvimento da criança, do adolescente”, completou o profissional.

Thales Almeida, Educador Físico e Personal Trainer / Foto: Divulgação - Redes Sociais 

Recentemente, um vídeo de um garoto de 12 anos viralizou nas redes sociais após ele mostrar sua rotina de treinos. Mas o que causou impacto foi o potencial e a força que ele mostrou no vídeo, isso porque ele consegue erguer cerca de 92kg e fazer incríveis 700 abdominais.

Carlos Augusto de Assunção Pitanga Neto, mais conhecido como Cacauzinho Neto, além dos treinos de força, consegue correr 5km ao menos seis vezes por semana. Mas tudo isso com a supervisão do seu pai, que também treina com ele.

“A gente o matriculou em dezembro (época das férias escolares). Aí, começou aquela rotina de treinos. Às vezes, eu mesmo não queria ir treinar, mas ele dizia: ‘Não, bora, bora, pai’. Foi aí que o professor disse: ‘Esse garoto tem potencial, não quero tê-lo mais com crianças’”, recorda o pai, que matriculou seu filho na academia Crossfit Oxente, em Salvador (BA), após ele  fazer uma aula experimental e conseguir  o melhor tempo do dia, ficando a frente, inclusive, dos adultos.

Mas qual o método correto de uma criança iniciar a prática da musculação e outras atividades físicas? Thales Almeida explica que é preciso, também, analisar a estrutura corporal da criança, mas também seguir as orientações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

“Deve-se levar em consideração a estrutura da criança, mas independente disso, segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, considera-se que a partir dos seis anos de idade, uma criança já pode estar praticando atividade física, em uma dosagem de, pelo menos, três vezes na semana, com duração de 60 minutos. Já seria o ideal”, explicou Thales.

“E aí a gente tem diversas. A natação é um dos esportes mais completos que tem para desenvolver toda a musculatura desde cedo. Melhora a capacidade cardiorrespiratória, até para alguns que tem esse problema, e desenvolvimento de força”, completou o profissional.

VIDA SAUDÁVEL

O educador físico explicou ainda a importância de ter uma vida saudável desde cedo.

“Uma criança que aprende a manter o estilo de vida saudável, ainda cedo, com certeza ela levará esses benefícios para para o resto da vida. A questão de gerar o hábito saudável é algo que vai desenvolver para o resto da vida, e isso é fundamental”, disse Thales.

QUANTO TEMPO DE EXERCÍCIO?

Outra dúvida que surge é quanto ao tempo que uma criança deve praticar exercícios físicos durante o dia. Thales conta que, até 60 minutos por dia durante três vezes na semana já são suficientes para a rotina de uma criança que inicia as atividades.

“Com relação ao tempo, até 60 minutos de atividades físicas por dia, durante três vezes na semana já seria suficiente para ter um bom desenvolvimento. Com isso, a gente tem que entender que para crianças é uma dosagem, praticar um esporte de forma não tão intensa, moderada, porque o principal objetivo não é o aumento de força bruta, desenvolvimento apenas de musculatura, como a gente considera a hipertrofia em relação aos adultos”, detalha o profissional, que chama a atenção para outros aspectos durante os treinos dos pequenos.

Thales Almeida, Educador Físico e Personal Trainer / Foto: Divulgação - Redes Sociais 

“Outros pontos são mais importantes para se trabalhar nessa fase, ajuda muito as crianças a lidar com o stress e a parte mental também pode desenvolver melhor daí, a parte psicomotora. Como é um crescimento saudável, ajuda o desenvolvimento, aumento da autoestima, fortalecimento dos ossos, dos músculos, das articulações, melhora a postura, o equilíbrio, fortalece o coração, a questão cardiorrespiratória. Ajuda a manter o peso ideal, melhora a capacidade de interagir com outras crianças, a interação social, desenvolve novas habilidades. Melhora o foco, concentração nos estudos... Então, esses pontos são bem mais importantes para serem levados em consideração na prática de esportes, principalmente na infância”, completou.

E NA ADOLESCÊNCIA?

“Já na adolescência, dependendo do objetivo, já muda. Pode ser voltado ao desenvolvimento físico, seja a perda de peso, ou aumento de massa muscular, de força, ainda segue o ponto de três a quatro vezes na semana, pelo menos 60 minutos também seria o ideal. E o controle da carga é importantíssimo, com o acompanhamento de um profissional de educação física também, especialmente pra conseguir controlar, normalizar e monitorar essa progressão de carga que deve ser moderada, para anotar as diferenças, as adaptações neurais. Melhora a capacidade cardiorrespiratória, aumento da força, consequentemente o gasto calórico e emagrecimento (se for o objetivo)”, explica Thales.

CUIDADOS COM OS EXCESSOS

Por fim, Thales chama a atenção mais uma vez para os excessos, e prega cautela durante a intensidade dos treinos, que podem gerar lesões e riscos para a saúde.

“Os excessos, quando passa a praticar atividade por um tempo maior que o normal, quando passa a trabalhar com a intensidade maior do que a recomenda habitual, pode gerar uma série de lesões e de riscos que podem causar um efeito contrário com relação ao desenvolvimento. Então, é importantíssimo saber dosar e seguir as recomendações para que tudo ocorra naturalmente”, concluiu.

*estagiário com supervisão da editoria