Ela era franzina, destemida e alagoana. Uma das primeiras mulheres a estudar Medicina no Brasil, Nise da Silveira foi a única formanda de uma turma de 157 homens. Desde então virou um símbolo de luta, de resistência e de referência em defesa dos pacientes psiquiátricos no Brasil. Contra técnicas consideradas agressivas, ela fundou o primeiro serviço de Terapia Ocupacional do país, criando ateliês de arte que substituiriam os choques elétricos. Menos de uma década depois, as obras resultantes dessas oficinas viraram acervo do Museu de Imagens do Inconsciente, no Rio de Janeiro, até então, a maior conquista da Dra. Nise. Ela virou estátua na orla de Maceió, deu nome a praças, ruas e ao primeiro Hospital da Mulher de Alagoas. 

Eu fiz questão de começar a coluna desse 8 de Março falando da trajetória dessa conterrânea ilustre, para dizer a vocês que hoje, quando comemoramos mais um Dia Internacional das Mulheres, muitas outras alagoanas despontam como destaques em suas áreas. Elas já são a maioria da nossa população 51,55%, segundo o IBGE, embora ainda enfrentem a desigualdade de salários e de oportunidades, o que justifica a representatividade desse dia, marcado pela luta por mais espaço e pela celebração das conquistas por direitos que precisam ser ampliados. 

É dia para comemorar, mais uma vez, as vitórias das alunas de escolas públicas de Alagoas que conquistaram vagas no Enem, entrando nas universidades com destaque merecido. É tempo de relembrar a história da Evellyn, de Arapiraca, que passou com louvor no curso de Jornalismo da UFAL. Impossível não recordar de seu exemplo, durante uma das muitas visitas às escolas de nosso Estado, quando me entrevistou de forma tão espontânea e confiante, que já parecia uma profissional. 

Quero também destacar a trajetória da Maria Alice, professora formada pelo ensino público, filha de uma merendeira que trabalha há 20 anos na cantina de uma escola estadual. Encontrei as duas, na última sexta-feira, quando visitei Piranhas e pude, mais uma vez, parabenizá-las pelas conquistas e pela crença em dias melhores para a Educação e para Alagoas. São mulheres, mães, alunas, professoras, merendeiras, diretoras, gerentes, secretárias de Estado, vereadoras, prefeitas, deputadas e senadoras que honram suas profissões, seus mandatos e levam adiante uma luta que deve ser de todos nós, por mais igualdade, espaço e respeito.

Violência e Machismo  -  Mas, infelizmente, o 8 de Março não é apenas um dia de celebrações e de conquistas. É também momento de reflexão em torno de questões urgentes, de pautas inadiáveis e de posturas firmes da sociedade como um todo. Na semana passada, uma pesquisa do Instituto Datafolha revelou que a violência contra a mulher aumentou durante o ano de 2022. O estudo realizado a pedido do Fórum Brasileiro de Segurança Pública inclui desde vítimas de xingamentos, frutos do machismo estrutural e do preconceito; até aquelas que são ameaçadas e assinadas, os chamados feminicídios. 

É contra isso que precisamos continuar lutando. Dentro de casa, nas salas de aula, nos ambientes de trabalho, nas ruas e no Parlamento. É um debate que precisa ser ampliado para jamais ser normalizado. Precisamos enfrentar cada insulto, humilhação, xingamento, agressão física ou tentativa de assassinato. O mundo mudou, mas ainda é desigual em muitos aspectos. 

Para superar os obstáculos e avançar em busca de maior justiça social, é preciso que haja cada vez mais iniciativas de empoderamento e afirmação das conquistas femininas. Um exemplo que vai estimular uma maior autonomia e protagonismo é o Projeto de Lei aprovado pela Câmara dos Deputados, na última quinta-feira, que cria o Programa Crédito da Mulher, junto aos bancos públicos oficiais. 

Além disso, o PL prevê que, no mínimo, 25% dos recursos do Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), devem ser emprestados às microempresas e empresas de pequeno porte controladas e dirigidas por mulheres.  

Há razões para acreditar nas mudanças. A mesma luta que marcou o 8 de Março como Dia Internacional das Mulheres precisa ser reafirmada todos os dias, para evitar notícias tristes em uma data que merece ser sempre celebrada e reverenciada por todos.