Nos últimos meses, o burburinho em torno do Chat GPT vem despertando a curiosidade de internautas no mundo inteiro. Polêmica, a plataforma divide opiniões e gera certa inquietação com quem trabalha nas áreas de educação e comunicação, principalmente entre professores e produtores de conteúdo. O modelo é baseado na Inteligência Artificial Generativa, ou seja, capaz de criar textos originais a partir de "diálogos" mantidos com o usuário, numa linguagem muito próxima da humana. Mas o que isso tem a ver com a educação ou o mundo trabalho? Eu diria tudo, já que os limites entre presente e futuro estão cada vez mais fluidos. 

A revolução tecnológica vem mudando o mundo nas últimas décadas, com a  massificação da internet e a proliferação de redes sociais. A Era da Informação e o uso da inteligência baseada em dados têm produzido mudanças substanciais nos processos de ensino-aprendizagem e, mais ainda, no competitivo cenário profissional. Com a pandemia da Covid-19, novos modelos mentais e formas de trabalho foram incorporados, exigindo capacidade constante de adaptação e reinvenção em todos os setores da vida em sociedade.

No Brasil, porém, o abismo gerado pelas desigualdades socioeconômicas, transforma a inclusão digital em mais uma trincheira de luta para quem atua no campo das políticas públicas. Em 2021, ao assumir a Secretaria da Educação de Alagoas, pude constatar de perto as dificuldades enfrentadas por alunos e professores durante o isolamento social, que suspendeu ou restringiu as atividades em sala de aula. O ensino remoto ou híbrido demandava equipamentos e acesso à internet, mas grande parte de nossa comunidade escolar não tinha as condições financeiras que essa nova realidade exigia.

Para minimizar os danos, lançamos o Programa Conecta Professor, que viabilizou uma ajuda de custo no valor de R$ 5 mil para aquisição de material de informática e contratação de pacotes de internet. O incentivo beneficiou, além dos professores, os servidores que trabalham na área pedagógica da Secretaria da Educação. Foram investidos um total de R$ 50 milhões ao longo daquele ano, o que certamente permitiu o maior aproveitamento dos conteúdos repassados nos modelos híbridos ou remotos de ensino.

Além da questão instrumental, também apostamos na educação continuada. Uma parceria firmada com a Fundação Telefônica Vivo, que apóia ações para levar cultura digital ao ensino público, garantiu a formação de nossos professores da rede estadual na prática do ensino híbrido e suas metodologias. Os conteúdos eram pautados levando-se em conta a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). 

Soluções Digitais - O pós-pandemia, contudo, tem exigido ainda mais compromisso. Enfrentando realidades diversas, o Brasil vem lutando contra a evasão e os baixos índices de aprendizagem que ainda marcam nossa educação pública. Em um mundo cada vez mais volátil, competitivo e desigual, precisamos investir na educação de crianças e jovens a partir de uma nova perspectiva, a formação digital. Desde o Ensino Básico, passando pela capacitação profissional até chegar às universidades, é preciso pensar em novos modelos e soluções, que se adequem ao presente, não mais visando um futuro, que antes parecia distante.

Para tanto, o processo de ensino-aprendizagem-aplicação precisa contemplar uma formação mais voltada para a experiência, seja individual ou coletiva, com treinamentos voltados à vocação e aptidão de cada um. Só assim podemos focar no desenvolvimento de habilidades comportamentais que podem fazer a diferença na hora de encarar o mercado de trabalho. O jovem lida agora com robôs e inteligências artificiais nas salas de aulas, no comércio, na indústria, na vida cotidiana. Não se trata mais de ficção científica ou exercícios de adivinhação.

Outro detalhe importante: já não basta saber utilizar as ferramentas digitais, é preciso interagir com elas e, em muitos casos, desenvolver e programar aplicações. O ensino que, há alguns anos, vem incorporando a robótica junto com princípios da cultura maker (ou mão na massa, em bom português), precisa ampliar esses avanços, levando ao exercício da investigação, da colaboração e do contato com problemas do mundo real, que exigem soluções ágeis para serem resolvidos.

Tudo isso sem esquecer a necessária humanização em todas as etapas. A chamada "habilidade relacional" é tão importante quanto a aquisição de conhecimentos mais complexos, que exigem raciocínio lógico e, muitas vezes, o uso de ferramentas digitais. É essa capacidade humana, criativa e resiliente que torna o brasileiro um povo único, que se reinventa a todo instante. O futuro da educação e do trabalho passa pelo presente. Começa na formação e continua na aprendizagem constante, incorporando a tecnologia, sem abrir mão da própria humanidade.