As doenças cardiovasculares, afecções do coração e da circulação, são as principais responsáveis pela causa de mortes no Brasil. São mais de 1100 mortes por dia, fazendo com que as doenças cardiovasculares provoquem o dobro de mortes em relação aos óbitos causados por todos os tipos de câncer juntos, 2,3 vezes mais que as todas as causas externas (acidentes e violência), três vezes mais que as doenças respiratórias e 6,5 vezes mais que todas as infecções, incluindo a AIDS.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia, estima-se que, ao final deste ano, cerca de 400 mil cidadãos brasileiros morrerão por doenças do coração e da circulação. Mas o que fazer para evitar ser vítimas de um infarto ou parada cardíaca? Praticar exercícios com regularidade, se alimentar bem e sempre fazer check-up. Estes são alguns hábitos, segundo especialistas, que podem ser adotados se você quiser diminuir os riscos de sofrer com um infarto.

O Cada Minuto conversou com Thales Almeida, profissional de Educação Física e personal trainer, que explicou como iniciar uma rotina de exercícios do jeito certo, sem correr riscos mesmo durante a prática da atividade física.

O profissional ressaltou que “é preciso se assegurar que está apto a praticar atividade física”, e que antes de começar essa rotina, é necessário consultar um médico cardiologista para melhor lhe orientar.

“Feito isso, é fundamental entender que a prática da atividade física feita de forma correta e na dosagem certa, irá contribuir para a melhora do condicionamento cardiovascular, cardiorrespiratório, e com isso, tornar o coração mais forte”, disse o profissional.

Mas qual o jeito correto para realizar uma atividade física? Neste caso, a função do profissional é fundamental, como o próprio Thales explica. Segundo ele, “a função do Profissional de Educação Física nesse contexto é monitorar e prescrever na dosagem certa (intensidade) o tipo de treinamento específico, para trabalhar de forma gradual o condicionamento. Sendo assim, a intensidade é de fato um fator determinante em todo esse processo”, explicou.

E caso exista dúvidas quanto ao método, quais os exercícios a serem feitos para melhor cuidar do seu coração, Thales ressalta que mesclar alguns treinos é indispensável.

“Mesclar o treinamento aeróbico (caminhadas, pedalas, corridas leves ao ar livre, ou a parte de ergometria nas academias- Esteira, Elíptico, Bike) junto ao treinamento resistido (Treinamento de força, na musculação, tornando as articulações e musculatura mais fortes) para se ter o melhor resultado no processo”, explicou.

Mas os cuidados não param por aí. Como foi dito, a alimentação também é fundamental para os cuidados do coração. E uma das dúvidas sobre o assunto é: existe algum medicamento caseiro que ajude a diminuir o risco de sofrer infarto?

O médico cardiologista, Dr. Carlos Macias, explicou que não existe necessariamente uma medicação caseira, “mas existe a alimentação caseira de alta qualidade”. E que o ideal “seria evitar as gorduras saturadas, e não consumir gorduras monoinsaturadas”.

Dr. Carlos Macias, médico cardiologista (Foto: Divulgação)

“Especificamente não tem uma medicação caseira, mas o estilo de vida que você pode levar, com exercícios físicos, comendo menos gorduras saturadas, comendo menos carboidratos, refrigerantes, bolos, etc, isso tudo seria uma “medicação caseira” que poderia ajudar a reduzir os riscos de infarto”, disse Dr. Carlos.

E quais os tipos de comidas que podem ser aliadas do coração? Para o profissional cardiologista, é preciso, antes de mais nada, “reduzir as gorduras saturadas”. Dr. Carlos foi além: “Vamos pensar nas boas para o coração. Por exemplo: o abacate, que é muito bom para o coração, porque ele é rico em ácido gástrico monoinsaturado. Reduz o LDL Colesterol, que é o responsável pelo entupimento dos vasos (sanguíneos), que produz aquelas placas de gorduras no coração, que provocam o infarto. E aumenta o HDL, que é o segundo benefício”, explicou.

“Outro alimento importante seria o azeite, principalmente o de oliva, aquele extra virgem é o melhor deles. Você pode consumir em quase todos os tipos de alimentação, como em saladas, peixe, todo tipo de alimentação”, completou o médico.

“Os peixes, de uma maneira geral, principalmente alguns peixes de aguas profundas, que são ricos em Ômega 3, são bons para o coração. Castanhas, amêndoas, nozes, pistaches, também são indicados para quem tem problemas cardíacos; aveia, que tem uma substância chamada beta-glucana, que reduz o LDL Colesterol; a banana, que é rica em potássio, também é outra substância boa, principalmente em atletas; leguminosas, como feijão, lentilhas... Tudo isso são alimentos saudáveis para o coração”, detalhou Macias.

Só que outras questões acabam cercando o tema. Uma dúvida pertinente é: por que é comum uma pessoa sofrer infarto durante o período noturno? Dr. Carlos explicou que “é preciso lembrar que a maioria das pessoas que sofrem infarto, elas são hipertensas, diabéticas, fumantes, e tem o colesterol alto”, e que “essas são as principais causas que levam aos infarto do miocárdio. O período mais comum que o indivíduo tem infarto ou AVC (Acidente Vascular Cerebral), mais conhecido como derrame, geralmente é mais frequente entre 3h da manhã e 11h da manhã”, disse ele.

Mas qual a razão disso acontecer? Segundo o cardiologista, “Porque ao acordar, o organismo lança na corrente sanguínea alguns hormônios para preparar a gente para atividades como a adrenalina, e isso aumenta os batimentos do coração, aguenta a pressão arterial e a elevação das plaquetas. O sangue fica mais grosso, como é popularmente conhecido, e com risco de trombose. E é por isso que os infartos são mais frequentes nesse período”, completou.

E quem já sofreu um infarto, acaba ficando com “um pé atrás” após a recuperação. E outro questionamento feito é: o que não se deve fazer após sofrer um infarto?

“Eu acho que deveria ser: o que se deve fazer após sofrer um infarto? E o que se deve fazer é, primeiro, fazer uma consulta regular com seu cardiologista. Reduzir seu colesterol, normalizar, reduzir sua pressão arterial, controlar a diabetes. Depende muito do infarto que você teve, e qual foi o comprometimento do músculo do coração. Só o seu cardiologista pode orientar a quantidade de atividades físicas que você pode fazer. Mas em resumo, é mudar a sua conduta em relação aos fatores de risco, que são eles: diabetes, hipertensão, colesterol elevado, o fumo, obesidade, sedentarismo, isso tudo o indivíduo deve controlar após sofrer um infarto do miocárdio. Além de tomar a medicação regularmente”, disse Dr. Carlos.

Mas e em relação aos atletas de alto rendimento? Por que mesmo levando uma rotina saudável, por quê alguns deles acabam morrendo vítimas de infarto?

“Primeiro que isso nos trás uma surpresa muito grande, porque a mídia toda se surpreende, chama muita atenção um atleta de alta performance ter uma morte súbita. Porque o atleta, ele é um exemplo de alta perfeição. Se espera que um atleta tenha uma saúde perfeita, mas não é bem assim. O mais importante, nós chamamos avaliação pré-participação. Todo atleta de alto rendimento deveria fazer uma avaliação detalhada por um especialista, no caso, o cardiologista. Então quais são as coisas que ele morre? Primeiro são exercícios de uma alta exigência física, você pedala, corre, uma maratona muito desgastante. Há um aumento excessivo dos batimentos do coração. E a gente sabe que um aumento excessivo dos batimentos do coração aumenta o gasto de oxigênio, e muitas vezes o indivíduo não sabe que tem um entupimento coronariano, uma obstrução que ele desconhecia, e essa alta frequência pode desencadear um infarto”, explicou o cardiologista.

“Há uma desidratação, uma causa muito frequente de morte súbita. O indivíduo não consegue se hidratar proporcional ao que ele perde, e com isso uma alteração elevada da perda de sódio, potássio, magnésio... E a gente sabe que o magnésio, sódio e potássio, são importantes na contração do coração. Isso pode provocar arritmia, morte súbita. Além disso, às vezes há uma hipertermia desses atletas, o aumento muito elevado da temperatura. Então, é um consumo muito grande de energia. Imagina se esse indivíduo, de alto rendimento, tem algum problema, isso pode até ser até um gatilho para uma doença pré existente”, emendou o profissional.

“Das doenças do coração, a mai frequente, que causam a morte súbita, miocardiopatia hipertrófica, que é um problema que o indivíduo já nasce com ele. Outro problema são as arritmias, alguns problemas que o atleta já nasce com ele, uma pré-disposição genética, isso também são causas que são detectadas pelo exame cardiológico detalhado. Então é importante detalhar a importância do indivíduo fazer um check-up, primeiro com um médico laborizado, porque ele vai saber o histórico familiar que pode se ter uma morte súbita, com doença coronariana”, ponderou o profissional.

“Mas com isso o médico vai fazer um exame clínico, saber se tem problema em alguma válvula no coração. Por exemplo, tem indivíduos que tem estenose hóstia, que pode causar a morte súbita. Isso tudo o médico vai avaliar. Um teste ergométrico, um teste simples, o ecocardiograma é fundamental, que detecta essa miocardia hipertrófica. Então eu recomendaria, para todos os atletas que fossem participar de uma atividade física, que fizesse uma boa avaliação com o seu cardiologista”, completou Dr. Carlos, que teve sua opinião compartilhada com o educador físico, Thales Almeida, que também chamou a atenção para aqueles que não tem “histórico de atleta”:

“Para uma pessoa que não tem histórico de atleta, pode ocorrer devido a: tabagismo, uso de drogas, diabetes, obesidade, hipertensão ou predisposição genética de infarto precoce. Por se tratar de um atleta, com hábitos saudáveis, e prática de atividade física regular, o fator mais forte, logicamente é a questão genética (Hereditária)”, explicou Thales.

E quais os sintomas do infarto? Como o indivíduo pode saber que está sofrendo com essa complicação? E quais as diferenças de um infarto para uma parada cardíaca?

Dr. Carlos: “Os sintomas mais frequentes que o paciente relata quando está com o coração inchado, é a falta de ar. E se ele faz grandes esforços, isso pode evoluir para os médios e pequenos esforços. Muitas vezes, quando a situação vai se agravando, pode inchar as pernas também, ter edemas. Mas o comum, é a falta de ar quando ele faz qualquer atividade física mais frequente”.

Já sobre as diferenças entre parada cardíaca e infarto, Dr. Carlos disse: “O sangue corre, normalmente, atrás das artérias coronárias. Quando o indivíduo tem uma oclusão nessa artéria coronária, aquela região do coração deixa de receber o sangue, e não recebendo o sangue, aquela região morre. Então tem o infarto do miocárdio.

A parada cardíaca é quando o coração para de bater. Muitas vezes o infarto pode levar a uma parada cardíaca. Então, a parada cardíaca é diferente de um infarto.

No infarto (o paciente) tem uma dor no peito, um desconforto muito grande, fica suando, geralmente esse indivíduo tem fatores de risco pra isso. E uma parada cardíaca é quando o indivíduo não está falando direito, ou quando ele tem uma doença que o coração para de bater”.

Por fim, o médico cardiologista explicou também sobre os sintomas em faixas etárias diferentes nas mais variadas pessoas.

“Não. O infarto dá dor no peito, apertando, às vezes se irradia para o braço, geralmente se acompanha de sudorese, palidez, e tanto faz ser jovem, adulto ou idoso. O que acontece é que muitas vezes tem indivíduos que tem uma sensibilidade da dor menor. Tem o paciente diabético, da raça negra, às vezes ele pode ter um infarto sem dor, mas é mais raro. O mais comum é que, os sintomas sejam semelhantes”, concluiu Dr. Carlos.