O uso da cannabis medicinal em Alagoas já é lei. De autoria do deputado estadual Lobão, a lei prevê a universalização do curso da cannabis para tratamento de doenças e incentivo à pesquisa sobre o uso medicinal da substância.
Ao Cada Minuto, o deputado Lobão, explica que o uso da cannabis medicinal autorizado por lei em Alagoas representa um grande avanço para a saúde pública, compromisso com a saúde pública e a ciência.
“Alagoas teve a sensibilidade de ouvir a ciência de se importar com a dor do próximo e corajosamente aprovou esse projeto”, comemora.
De acordo com a lei, Alagoas passa a fomentar a pesquisa sobre o uso medicinal e industrial de medicamentos à base de cannabis. Ainda conforme a lei, fica autorizado o uso de recursos do Fundo Estadual de Combate e Erradicação à Pobreza (Fecoep) para assegurar que pessoas em situação de pobreza no estado possam ter acesso ao medicamento e a tratamentos com base na substância.
O deputado informa que a produção dos remédios terá acompanhamento e fiscalização. De acordo com ele, quem vai produzir são associações de pacientes e pessoas jurídicas. “Vai ser tudo fiscalizado, seguindo as regras. O nosso intuito é que tenhamos qualidade obedecendo os critérios técnicos de segurança com a fiscalização e o acompanhamento dos órgãos competentes”, diz.
Lobão explicou que a autorização da utilização da substância extraída da cannabis não é uma porta de entrada para a liberação de substâncias entorpecentes.
"Muitos acham que liberar o uso da cannabis é liberar o uso da maconha. E não é! Nós estamos lutando pela liberação de um medicamento que vai salvar a vida de muitas pessoas. Só quem sabe a importância dessa medicação são aqueles que têm doenças crônicas e que precisam da ajuda dela, porque outros medicamentos não fazem efeito", reforçou o parlamentar.
Cannabis em tratamentos médicos
O médico com experiência em prescrição de Cannabis medicinal, Freddy Mundaka, explicou que o uso da Cannabis medicinal já é permitido em todo o âmbito nacional desde à regulamentação da Resolução da Diretoria Colegiada n. 327, de 2019, feita pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que trouxe uma série de requisitos para prescrição e comercialização de produtos à base do vegetal.
No entanto, ele destaca que a lei alagoana incentiva a pesquisa, capacitação de servidores, aquisição de produtos à base de Cannabis, inovação em associações e dentre outros fatores.
“Possui potencial não só em amparar os pacientes que necessitam de tratamento com a planta, mas, também, incentivar todo o nicho mercadológico que o engloba, criando empregos e oportunidades para um mercado que se encontra em fase embrionária no país”, comenta.
De acordo com Freddy, o canabidiol tem potencial terapêutico e tem sido bastante empregado no tratamento de doenças psiquiátricas.
De acordo com o médico, as doenças neuropsiquiátricas mais comuns são: Alzheimer, anorexia, ansiedade, autismo, AVC, alcoolismo, depressão, doença de Parkinson, dor crônica, enxaqueca, epilepsia, esclerose múltipla e etc.
“Não me limitaria a falar em compostos canábicos só na saúde mental, mas, sim para todas as especialidades médicas, uma vez que está presente no corpo humano o sistema endocanabinóide, responsável pelo processo de homeostase”, explica.
Ele enfatiza ainda que: “o THC [Tetrahidrocanabinol] que, em determinadas situações é a estrela, tem muitas condições envolvendo dores, mas, possuindo suas limitações quanto ao uso na infância e adolescência”.
O médico destaca a importância de procurar um médico com habilidade em manejo com canabinóides e destaca que cada caso é único, já que cada paciente representa um mundo de variáveis. “Existem muitos compostos medicinais nesta planta, mais de 700 que agora estão amplamente estudados e testados”.
Para Mundaka, a utilização da Cannabis vaporizada é uma opção que, no exterior, faz parte dos esquemas terapêuticos, mas, no Brasil só é aceito o uso por via oral e nasal.
No entanto, o médico alerta que os riscos do componente psicoativo THC, quando mal utilizado, podem facilitar uma crise de ansiedade, surtos psicóticos, alterações da realidade, taquicardia, hipotensão, sonolência, tontura, ressecamento da mucosa oral, etc.
“Temos que discriminar o uso recreativo e o uso medicinal, o uso “fumado” não faz parte de nenhum protocolo médico sério, ainda que existam opiniões contrárias, às alterações químicas da combustão oferecem mais prejuízos que benefícios”, aponta.
Alagoano relata experiência com a cannabis medicinal
Um alagoano, que preferiu não ser identificado, relata que utiliza a cannabis medicinal há pouco mais de 3 meses, para o tratamento de Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH).
Ele explica que consome 6 gotas às 8 da manhã, em jejum, e precisa esperar 20 minutos para beber água ou se alimentar. “À noite tomo mais 6 doses, depois de passar 30 minutos sem beber água ou comer. Faço uso de CBD e THC, em formato de óleo, todos os dias, enquanto faço o desmame da minha antiga medicação, cloridrato de bupropiona”.
Com relação à aquisição do medicamento, o paciente diz que apesar da tentativa recente do Conselho Federal de Medicina de coibir o tratamento, considera que hoje é mais tranquilo conseguir a medicação.
“A ordem judicial não é mais necessária, basta o laudo médico e o receituário. Um proibitivo pode ser o valor alto para a maioria das pessoas, em torno de 180 reais por mês, pela instituição, devidamente regularizada, onde adquiro o óleo. Mas, como é um tratamento diferenciado, não considero um valor alto”, comenta.
O alagoano conta que como a instituição onde compra cobra anuidade e já pagou, ele não será diretamente beneficiado pela liberação da venda de canabidiol em Alagoas, nesse primeiro momento.
“Porém, muitas outras pessoas serão, e isso reacende a esperança de todos os que fazem tratamento com cannabis medicinal. Esse preconceito precisa acabar, porque a efetividade e baixo nível de toxicidade desse tratamento já foram provados há muito tempo”, completa.
“Me sentia imobilizado pelo transtorno”
Segundo o paciente, uma das principais consequências do TDAH, em seu caso, é a ansiedade, que diminuiu muito desde que iniciou o tratamento.
“Ao mesmo tempo em que o CBD acalma, o THC trabalha meu foco, e direciona minha atenção para o lugar certo, e não mais para os pensamentos disfuncionais que já eram uma constante no meu dia a dia. Consigo render muito mais no trabalho, voltei a ler mais e a conseguir estudar. Antes do tratamento, eu realmente me sentia imobilizado pelo transtorno”, relata.
Sobre a mudança do tratamento mais tradicional para o uso de cannabis, ele esclarece que decidiu tentar após ler muito sobre o método.
“Fiz isso porque os tratamentos psiquiátricos tradicionais, como o que eu fiz por bastante tempo, com cloridrato de bupropiona, tendem a colocar o paciente em um loop de aumento de dose e outras associações medicamentosas”, comenta.
“Como o efeito dessa droga diminui no médio prazo, sempre é preciso aumentar a dose e fazer essas associações que mencionei. Muitas vezes, os pacientes tornam-se dependentes dela por toda a vida. Já com o óleo de cannabis, o objetivo é reabilitar o paciente, para que, no futuro próximo, a medicação não seja mais necessária. Torço muito pela chegada desse momento na minha vida”, finaliza.
*Estagiárias sob supervisão