Dione é boa de prosa, uma conversadeira de histórias, cheias de palavras atravessadas, por lacunas intransponíveis.

A música é uma confidente-companheira e para provar isso, não se fez de rogada cantou uma canção religiosa, com uma tristeza, sem ecos.

A solidão das ruas. 

Dione é moradora em situação de rua e utiliza lugares públicos e  áreas degradadas como espaço de moradia e de sustento .

Conta que teve 5 filhos. Com dois não tem vínculos familiares. Desconhece o paradeiro e , os outros três, a mãe cria.

A mulher é um modelo clássico das gentes , socialmente, descartáveis: mulher, preta, moradora em situação de rua e convive com a dependência química, como uma doença crônica.

Herança da cultura escravocrata.

Nem o poder público, nem as lutas dos movimentos negros alcançam e abrigam os sonhos e a aprofundada invisibilidade social de  Dione.

A mulher preta sente  a discriminação, cotidianamente, mas, não sabe dizer seu nome:

Sabe o que é racismo, Dione? :

Racismo não sei o que é, mas, HIV, sífilis e gastrite, sei muito bem- respondeu.

E o projeto Rotas de Conversas Negras, uma iniciativa do Instituto Raízes de Áfricas e Pretas Construindo Futuros prossegue resgatando histórias , no Novembro Negro, afirmando que HIV, sífilis e gastrite de Dione  são expressivos determinantes  sociais de saúde , que materializa a exclusão (  condições de moradia, insalubridade, a fome, baixas condições sanitárias, etc e tal) imposta pelo racismo estrutural, em voga e naturalizado nas terras de Palmares, Alagoas.

Vidas precarizadas.

E nessa quinta-feira, 17/11,O  Rotas de Conversas Negras, aconteceu na Praça das Graças, centro da capital Maceió.

O  Rotas de Conversas Negras vai percorrer cantos, lugares e  alguns municípios alagoanos e conta com o apoio da deputada Jó Pereira, empresário Isaac Pessoa, SEBRAE e Federação das Indústrias.