Mesmo sendo o berço político de Zumbi dos Palmares, registrado honrosamente como herói nacional no livro de aço dos Heróis Nacionais, exposto no salão principal do Panteão da Pátria Tancredo Neves, em Brasília, o estado político das Alagoas rouba,com uma omissão pacificada, pela conivência de esquerda, direita, volver, o lugar da legitima participação e representação política e social dos descendentes de Palmares.
O estado alagoano adota, o discurso teórico e abstrato do atendimento aos mais pobres, estabelecendo o sequestro das identidades étnicas, esquivando-se de perceber que a problemática do racismo estrutural, vai bem mais além do que o conceito estigmatizante de pobreza.
Nas Alagoas de Jorge de Lima, de Palmares, o “pai” da escravizada e analfabeta Nega Fulô, faltam letras inteiras no vocabulário de tantos meninos e meninas, quase todos pretos ou pardos, que sem a voz política do conhecimento são capturados pelo trabalho subalternizados, ou,na venda dos corpos mirrados nas beiras das pistas locais: Tio, eu “faço” por um real!
Tem-criança-com-fome. Tem-criança-com-fome. Tem-criança-com-fome…
Sua criança tem fome de quê?
Para além da fome, que por si só é uma violência mortal, o racismo carrega uma série de fatores (é estrutural,né?), que causam impactos danosos, ao desenvolvimento infantil, principalmente, sob os pontos de vista psicológico e social, e quem se importa, com a integralidade da saúde do desenvolvimento das crianças pretas, em Alagoas?
A Secretaria de Estado da Mulher, da Cidadania e dos Direitos Humanos, ou quem sabe, o Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial - CONEPIR, ou o Programa Criança Alagoana-CRIA, ou ainda , o Fundo Estadual de Combate e Erradicação à Pobreza (FECOEP)?
São mortes em vida. Não é Severina?
O estado contemporâneo gestado, por uma casta de homens brancos e, politicamente, brancos, versados na política universalista, adota, sem mea-culpa, a cartilha do apartheid consentido, (sempre com a anuência da esquerda, direita, aliados, volver) e ao fazê-lo desestabiliza identidades, a ideia do pertencimento, incitando a população tutelada à perpetuação da segregação étnica e a aversão aos diferentes.
É o racismo estrutural envolto em uma letal carga de burocracia, neutralidade estatal, muitas vezes racial.
É a catástrofe da plataforma política exclusiva: “Se o povo não tem pão que coma brioches”, traduzindo Maria Antonieta, a rainha francesa.
Os fatos gritam, os números da pesquisa corroboram, 77% das crianças pretas/pardas alagoanas, o que significa 137.042, vivem em extrema pobreza, em um estado preto. A população de Alagoas é 73%, entre pret@s e pard@s .
Só falta, agora, encontrar legítim@s representantes do povo, nesse estado sob nova direção executiva e a composição dos parlamentos, em Alagoas, ( temos? teremos, um dia?), alfabetizad@s na cartilha da gestão responsável atrelada a adoção de políticas públicas distributivas e emancipatórias ,que possam conter e paulatinamente, erradicar essa persistente subcidadania das muitas gentes pretas/pardas viventes das Alagoas.
Letramento e equidade racial, o estado político de Palmares sabe o que significa?
Será que Zumbi, ainda, mora aqui?
Dia 20 de novembro é logo ali.
E que venham as festas!