O prefeito de Maceió, João Henrique Caldas, o JHC (PL), sofreu duras derrotas no processo eleitoral em Alagoas, mesmo não sendo candidato. Isso é inegável. Apesar de ter demonstrado potencial eleitoral com a candidatura do irmão, o Doutor JHC (PSB), este não foi eleito como deputado federal. Ao jogar uma imensa votação no lixo, em função das regras da proporcionalidade, acumulou uma derrota para si e para o chefe do Executivo municipal.
Os votos que Doutor JHC teve são “esquecíveis”. A derrota, não! Simples assim!
Além disso, JHC ainda apoiou a candidatura ao governo do senador Rodrigo Cunha (União Brasil), que também foi derrotado nas urnas pelo atual governador Paulo Dantas (MDB). Ele também viu o MDB – dos principais rivais políticos (o senador Renan Calheiros e o senador eleito Renan Filho) – crescer, fazendo a maior bancada da Assembleia Legislativa do Estado de Alagoas.
O bloco liderado por Renan Calheiros, conforme informações de bastidores, não pretende deixar JHC em paz. Afinal, com a administração municipal bem avaliada, JHC é, naturalmente, um forte oponente para eleições futuras. JHC tem capilaridade, sabe se comunicar bem com as massas, tem uma administração reconhecida, em que pese os problemas... sendo assim, é um forte rival no futuro. É o potencial nome contra os Calheiros.
Então, o MDB tem toda motivação para utilizar das armas que possui para criar obstáculos políticos para o prefeito. Alguns desses obstáculos podem ser forjados na Câmara Municipal de Maceió, diante da ligação que os emedebistas possuem com alguns vereadores que até então pertenciam fielmente à base governista de JHC.
Desgastar o prefeito pensando no futuro deve ser uma missão para os emedebistas, que devem, inclusive, buscar nomes para disputar as eleições municipais vindouras. Entre as apostas podem estar o ex-prefeito de Maceió, Rui Palmeira (PSD), o deputado estadual eleito Alexandre Ayres (MDB), dentre outros.
Portanto, o pós-eleição traz um desafio para o prefeito que preside o PL em Alagoas: ampliar suas bases e buscar alianças, na formatação de um grupo, que garanta não apenas a sua reeleição, mas também seja solidificado por compromissos para disputas futuras, seja JHC candidato ao governo na próxima eleição estadual ou não.
Não dá mais para viver do amadorismo político diante do profissionalismo calheirista. Lição que Arthur Lira deveria ter aprendido.
O problema de JHC é como construir essas alianças. Afinal, eis um universo de muitos caciques e poucos índios. Entre esses que lideram tribos estão o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (Progressistas), cujo futuro, em um governo federal petista, é incerto. Lira é muito mais fisiológico que ideológico. Seria ele de fato uma voz de oposição nacional que refletisse na política local? Somente o futuro dirá.
Outro grupo político, que na realidade sempre foi um subgrupo a transitar entre caciques maiores, é o dos Pereira, que já estiveram entre emedebistas e entre “liristas”.
A maior expressão política que os Pereira conseguiram é a deputada estadual Jó Pereira (PSDB), que não estará mais na Assembleia Legislativa na próxima legislatura. Ela traz uma trajetória coerente por posições tomadas. Isso faz de Jó Pereira um diferencial até entre os seus, o que é uma qualidade, mas também pode ser o problema.
Os demais – irmãos de Jó – pecam pela ausência de identidade, pois sobrevivem no mar do fisiologismo. Seria Jó Pereira ainda a figura central do grupo para costurar alianças e servir de vitrine para o que seu grupo tem potencial de realizar?
Quanto ao senador Rodrigo Cunha (União Brasil), ele volta ao Senado Federal com a derrota nas costas e com muitos dos “carimbos” que a oposição lhe impôs. Cunha, inábil para alianças, frágil nas convicções, perdeu muito do carisma que lhe colocava como a “nova política”.
O senador do União Brasil foi atropelado no primeiro turno e só se reabilitou por conta das acusações que pesam contra o adversário que teve: o vitorioso Paulo Dantas. Ou seja: pouco teve de méritos próprios em um processo em que exigia, pela polarização natural da disputa, alguém com mais substância.
O desafio de consolidação de um grupo de oposição em Alagoas, seja liderado por JHC ou não, é bem visível: não há qualquer tipo de identificação ou projeto entre as peças que estão do lado derrotado do xadrez, para que assim se rearrume o tabuleiro para uma partida futura. A oposição em Alagoas é uma colcha de retalhos que ajuda o adversário por uma simples regra na política: a facilidade de separar para conquistar.
JHC tem nas mãos as armas para ser o timoneiro de uma oposição em razão da posição que ele ocupa: o prefeito da capital que pode aglutinar todos em um projeto, desde que estes estejam dispostos. Todavia, o MDB também sabe disso. Logo, o prefeito é alvo, como já foi na meninice patética do ex-governador e senador eleito Renan Filho (MDB) ao ir gritar na porta do chefe do Executivo municipal logo após o resultado das eleições.
O ato de Renan Filho mostra bem o que ele traz no espírito e o quanto o MDB pensa em uma hegemonia, ainda mais quando o senador Renan Calheiros, o enxadrista de mil tentáculos, tem tudo para ser um dos destaques do futuro governo federal colocando em cena as suas práticas já conhecidas em uma gestão tão afeita a estas...