A pandemia nos trouxe grandes problemas e evidenciou outros que estavam obscuros, revelando a importância da ciência para resolver nossas principais questões. Tivemos amigos indicando mastruz com leite ou ivermectina para curar Covid-19, porém, ficou evidente que a sabedoria popular não resolveria o problema. Com o passar do tempo, as pessoas começaram a entender como uma pesquisa científica é feita e a grande maioria seguiu a ciência.
Essa experiência transformadora da sociedade com a Covid-19 deve ser levada também para a gestão pública. Não existem soluções mágicas e nem mandinga que resolva grandes questões. A busca por soluções passa por planejar, estudar dados, testar hipóteses e verificar a consistência dos resultados.
Gestão pública não se faz com arrumadinhos, achismos ou improvisos. Dinheiro público é escasso e precisa ter um propósito que melhore a vida das pessoas ou, no mínimo, sustentar uma boa prestação de serviços públicos de saúde, educação, segurança pública etc.
Programas e projetos públicos devem ser construídos lançando mão da ciência. Infelizmente, ao assistirmos à propaganda eleitoral na TV ou no rádio nos deparamos com um monte de propostas sem qualquer tipo de sustentação. Vendem-se apenas sonhos produzidos por marketeiros para alinhar os desejos apurados nas pesquisas qualitativas. Ou seja, a meta é rasa, o objetivo é subir alguns pontos percentuais nas pesquisas e ganhar a eleição. Não há, na maioria das vezes, qualquer análise técnica séria dos resultados desse conjunto de ideias. Talvez seja essa a melhor definição: são apenas ideias, a maioria sem fundamento algum.
Não é fácil para o povo identificar a qualidade das propostas, pois elas estão na sua maioria carregadas de tintas e vernizes que as deixam muito bonitas. Não há avaliação de como serão financiadas ou mesmo quando e como serão implementadas.
Vemos candidatos majoritários que não fazem ideia do tamanho do orçamento que vão ter que gerenciar. Aqui vale a lição de Marco Tulio Cícero sobre as virtudes dos políticos, na obra “A República”: “conhecimento e sabedoria ajudam o indivíduo a discernir e a tomar decisões. É preciso dedicar tempo ou possuir experiência de vida em comunidade e de gestão para alcançar a sabedoria teórica ou prática.
É necessário buscar não só a profissionalização da gestão pública, mas também da política. Não dá mais para elegermos pessoas que não respeitam ciência e educação como forma de transformação da sociedade. É preciso apostar em programas voltados para inovação, empreendedorismo e criatividade. Afinal, a produtividade da economia brasileira está no seu pior nível, o que compromete nosso futuro, pois estamos no fim do bônus demográfico.
A pandemia agravou a já fragilizada economia brasileira com problemas estruturais crescentes. Nos últimos três anos foram aprovados cinco Emendas Constitucionais autorizando furar o teto de gastos. Dessa forma, o déficit público tem subido não só na União, mas também nos Estados e Municípios afetados por medidas eleitoreiras impostas pelo governo federal.
Assim, será necessário em todos os níveis federativos o exercício de uma política fiscal que promova um ajuste lento, cuidadoso, integrado e coordenado. Não vai ter saída fácil desse processo. A insensatez foi muito grande e, infelizmente, as pessoas ainda não entenderam o tamanho da encrenca que o País se encontra. Mais uma vez os marketeiros vem ganhando a batalha da desinformação. Será preciso um movimento ordenado do governo e da sociedade para enfrentar a atual situação de falta de coordenação e fragmentação federativa.
A utilização de estudos técnicos será fundamental. Tem-se que aproveitar a grande evolução da economia e das ciências sociais nos últimos 20 anos. Técnicas modernas não podem ser desconsideradas dando lugar a mandingas representando um retrocesso. Viva a ciência!
George Santoro