O feriado da Independência do Brasil, que acontece nesta quarta-feira (7), vai movimentar as ruas de Alagoas após dois anos sem o desfile militar, em razão da pandemia da Covid-19. Mas, além do tradicional evento, às vésperas das eleições, manifestantes da direita e esquerda também usam a data para levantar bandeiras e pautas.
Ao Cada Minuto, a cientista política, Luciana Santana, afirma que este 7 de setembro deve gerar uma movimentação nas ruas de alguns estados do país, principalmente de militantes bolsonaristas, por ser uma data simbólica, com os 200 anos de independência. “Eles estão mobilizados para efetivamente aproveitar esse momento político e tentar exaltar a figura do candidato Jair Bolsonaro”.
“Em Alagoas, que é um estado muito conservador, é esperado que ocorram manifestações exaltando a figura do atual presidente, mas não necessariamente porque é um ano eleitoral e sim pela data”, explica.
No entanto, Santana acredita que as movimentações de hoje não terão a dimensão de outras manifestações como já ocorreram em outros momentos, como o ‘Vem pra rua’, a do processo de impeachment e outros.
Quanto ao perfil dos participantes, Luciana destaca que as manifestações da direita devem ser voltadas para um público muito restrito e mais elitizado, que efetivamente está atento a esse momento. “O perfil são pessoas da elite alagoana, pessoas que recebem mais de vinte salários mínimos, pessoas brancas, mais conservadoras, com mais de 40 anos de idade”.
Data como ato simbólico para mostrar força
Já para o cientista político, Ranulfo Paranhos, as manifestações de hoje devem variar entre os estados e cidades, a depender de quais governadores e prefeitos estejam alinhados com o Presidente da República, Jair Bolsonaro.
“No estado de Alagoas e na capital de Maceió, como não estão alinhados com a presidência, as movimentações devem acontecer de forma mais espontânea por parte de grupos individualizados. Pode ter manifestação, mas não na proporção que vamos encontrar em cidades e estados cujo presidente é aliado do governador ou prefeito”, comenta.
Ele acredita que a festividade do 7 de setembro e o desfile militar terão um caráter mais ufanista, ligado à proposta do Governo Federal de mostrar que as forças armadas representam um dos poderes e pilares da democracia.
“Quando, na verdade, a democracia e os poderes que compõem a democracia são três poderes e só. O exército não passa de um órgão dentro do poder executivo. Na verdade, é uma burocracia. Não passa de uma instituição, não é um poder”, destaca.
Paranhos afirma ser natural que a data se transforme, às vésperas da eleição, também em um ato simbólico para demonstrar força. “Por se tratar de um feriado, uma data importante e devido ao presidente estar convocando seus apoiadores há alguns meses, chamando para os atos nas redes sociais”.
“Há uma parcela da população do país que diz votar no atual presidente, em torno de ⅓ da população e, por isso, apoia parte de sua agenda. Uma parcela desses indivíduos tem uma predisposição grande de usar verde e amarelo, plotar os carros e ir para as ruas, mas isso tem um custo. Há gastos com isso e nem todo mundo consegue, quer ou pode arcar. Então só os mais engajados é que irão”, diz.
“As pesquisas de opinião identificam esse perfil e vamos encontrar esse perfil do eleitor, uma parcela dele que possivelmente estará na rua. Homens, suas esposas, pessoas de idade mais avançadas e que perfazem mais de cinco salários mínimos por residência”, completa o cientista.
Movimentos de direita em AL ocupam ruas do estado
Conforme o coordenador do Movimento Direita Arapiraca, Saulo França, as pautas do grupo para os atos de 7 de setembro este ano será mostrar ao Brasil que Arapiraca tem um forte movimento em apoio ao Presidente Jair Bolsonaro. Além de defender Deus, a pátria, a família e a liberdade.
Segundo ele, o grupo está alinhado com outros da direita de diversas cidades de Alagoas, dentre eles a União Conservadora de Alagoas (UCA) e o Movimento Brasil (MBR). “Estamos todos juntos na organização desse gigantesco movimento”.
França afirma que os organizadores esperam alcançar um público de 4 mil a 5 mil apoiadores em Alagoas, ultrapassando o último ano. “A organização do movimento do 7 Setembro do ano passado foi magnífica, porém só tivemos 15 dias para fazer tudo. Fizemos tudo em tempo recorde, graças a Deus deu tudo certo e a adesão nos surpreendeu”.
Ele explica que o grupo utiliza como estratégias para engajar os apoiadores nos atos através de um trabalho de divulgação diária, em mais de 40 grupos do Whatsapp das principais cidades de Alagoas. “Eu venho administrando e publicando também nas páginas do Instagram dos organizadores e na Direita Arapiraca”.
“Já estamos iniciando a divulgação através das rádios comunitárias, web rádios, impulsionamento nas redes sociais e estamos colocando carros de som para divulgar nas cidades vizinhas de Arapiraca”, comenta.
Saulo conta ainda que a programação do ato será inicial com o hino nacional e, em seguida, falas de cada um dos representantes dos respectivos movimentos participantes da organização. “Inclusive teremos a presença de alguns políticos ligados ao presidente Bolsonaro, como Cabo Bebeto, Leonardo Dias e nosso candidato ao governo Fernando Collor. Logo após, iremos seguir em carreata pelas principais ruas de Arapiraca”.
Gritos do Excluídos realiza ato em Maceió
Em Alagoas, movimentos ligados à esquerda também estarão nas ruas nesta quarta-feira. De acordo com a presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) no estado, Rilda Maria Alves, o grupo conta com o apoio de organismos e pastorais sociais, movimentos populares e sindicais.
Eles terão como pautas este ano a falta de moradia, comida, empregos e a luta pela democracia. A organização está sendo em conjunto com outros movimentos de esquerda do país e do estado. Neste 28º Grito dos Excluídos, os organizadores esperam que cerca de 2 mil pessoas compareçam ao ato.
Segundo Rilda, a estratégia para atrair os apoiadores é através do diálogo com as pessoas e as organizações. “Temos feito esse debate trazendo a participação junto dos movimentos para construir um Brasil sem violência para todos e todas”.
“Eles estão junto conosco no grito da luta em defesa da democracia. Estamos dialogando pois esse Grito precisa estar marcando posição pela questão do que estamos enfrentando no nosso país, como a fome, acesso a terra, democracia e violência contra movimentos sociais e sindicais, perseguições”, completa.
A concentração do ato acontece na Igreja Virgem dos Pobres, no Vergel do Lago, a partir das 8h. A programação inclui uma celebração com participação das pastorais, movimentos e vai até o Papódromo, onde será finalizado.
*estagiária sob supervisão da Editoria