As agressões sofridas pelo senador Rodrigo Cunha (União) durante o jogo do ASA em Arapiraca, no domingo (14), repercutiram durante grande parte da sessão de terça-feira (16), gerando um debate acalorado na Assembleia Legislativa de Alagoas. A deputada Jó Pereira classificou o fato de “violência política” e lamentou que ele tenha sido presenciado pelos filhos menores do senador, conhecedores da história de violência política da qual a família foi vítima, e por outras crianças que estavam no estádio.

“No momento em que a própria CBF e times locais vêm promovendo a participação de todos nos estádios, nos vemos em um cenário de torcida única, onde a motivação do episódio de violência foi política. Em um estado nacionalmente conhecido, infelizmente, por sua violência política, a motivação não foi briga de torcida, porque todos torciam pelo gigante ASA de Arapiraca”, afirmou a parlamentar, cobrando um posicionamento do governador de Alagoas.

Jó também falou sobre a função da Secretaria de Prevenção à Violência (Seprev), que precisa funcionar promovendo a cultura de paz, com a titularidade exercida de forma técnica, por quem tenha realmente condições de promover essa cultura: “Quero pedir ao governador tampão,  pelos alagoanos, por nós, alagoanas, pelas pessoas de todas as religiões, pela paz nos estádios, pela não violência política, que faça da Seprev uma secretaria de articulação da paz, que entregue ao alagoano um futuro melhor”.

Bruno Toledo (MDB) reagiu à fala da colega criticando o posicionamento de “neo-oposição” de Jó Pereira, chamou a deputada de egocêntrica e “petulante”, por resgatar a tragédia do assassinato de Ceci Cunha, e disse que estavam tentando “vitimizar” Rodrigo Cunha, candidato a governador de Alagoas que tem Jó como vice-governadora.

A parlamentar respondeu exigindo que Toledo respeite sua trajetória política, sempre pautada na independência: “Entendo que, como bancada do governador tampão, tendo feito parte do acordo para colocá-lo no cargo, vossa excelência tenha sim que defender esse governo, mas lhe peço que tenha honestidade e coerência intelectual. Sempre fui independente, mas vossa excelência saiu da oposição por oposição para situação acima de tudo, acima dos interesses de Alagoas”.

“Fui chamada de petulante, que significa atrevida. Vossa excelência me chamou de atrevida, mas sou uma deputada estadual que faz parte da maior bancada feminina da história desse Parlamento. Se, para o senhor, ser mulher e ter sido a mais votada é ser atrevida, esse é um conceito equivocado”, prosseguiu, dizendo que, por não sofrerem na própria pele, muitos querem apagar a história da violência em Alagoas.

Dados do Fecoep

Jó aproveitou o debate e solicitou a Bruno Toledo que peça ao governo estadual para mostrar o saldo do Fecoep (Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza) de dezembro do ano passado até agora, mês a mês. “Como foram gastos os recursos do Fundo? Mostre a desvinculação, o desrespeito ao alagoano que passa fome. Mostre, traga, abra os dados, as informações... Mostre em que foram usados os recursos, por que também é uma forma de violência tratar Alagoas como se fosse propriedade particular. Não é”.

Neste momento, o líder do governo, Silvio Camelo, pediu que o presidente da Casa, Marcelo Victor, limitasse o tempo do aparte de Jó.

Porém, antes de encerrar a sessão, Marcelo Victor disse que a palavra da deputada, assim como dos demais parlamentares, estava garantida, apelando apenas para que os deputados abandonassem “as palavras que atentam contra o decoro na Casa”.  

Ainda durante as discussões, Davi Maia (União) destacou que o fato ocorrido em Arapiraca foi emblemático por envolver o secretário de Prevenção à Violência e Rodrigo Cunha, pois “ninguém representa mais a vítima de violência política nesse estado do que o senador”. O deputado lamentou o que classificou de “omissão” do governador Paulo Dantas em não ter se pronunciado até o momento.

Outros deputados, a exemplo de Leo Loureiro, Ricardo Nezinho, Tarcizo Freire, Dudu Ronalsa e Flávia Cavalcante, esposa de Kelmann, também falaram sobre o caso. Flávia defendeu a postura pacífica do marido e disse que a agressão denunciada pelo senador foi um “ato político”.