Erwania  é uma preta de  40 anos,  e aos 14 anos foi estuprada. 

Casou com o cara que a estuprou, para não ficar mal falada. 

Teve sua primeira filha aos 15 anos.

O casamento não deu muito certo.

Aos 17 morava nas ruas, com outro companheiro e em um ciclo de desamparo, de auto-punição, iniciou um intenso processo de drogadição. 

Foi vítima de mais dois estupros.

A família a rejeitava, como uma filha ilegítima de afetos. A rua ressignificava o sentimento da liberdade, de não ter que dar satisfações.

E foi a mesma rua  que assistiu o parto do segundo filho. “Adotou  mais outros 4 , da rua, como seus.

Vânia relata: “Vivi na rua por 12 anos, usei drogas. Só não matei e roubei, mas, o resto. Presa por tráfico de drogas, peguei 11 meses. Meu companheiro, que também estava preso, foi morto, logo depois. Quando saí da prisão, não tinha para onde voltar. Minha família continuava de portas fechadas. Junto a um parceiro aluguei uma casinha e senti a necessidade de fazer algo que desse sentido a minha vida e a meus filhos.”

Dois  dos filhos adotivos foram mortos por contra do vício. 

Um era homossexual.

Decidiu abandonar, de vez, as drogas.

Ela conta: “Junto, com meu atual companheiro tive a ideia de ir para o mercado da produção pra recolher o alimento, que mesmo, em boas condições era jogado fora. Começamos a fazer sopa e em um carrinho de mão distribuíamos o alimento,  com pessoas em situação de rua, uma história que já tínhamos vivido.”

A proposta deu origem a ONG na parte alta da cidade, Maceió, que atende cerca de 300 famílias.

‘Meu sonho é ver meus filhos se aprumando na vida e ajudar minha comunidade.’- sonha a preta.

De tanto ser rejeitada, Vania tem dificuldades de se ver como alguém que merece cuidados. Convive com terríveis dores, por conta da fibromialgia, e de grave lesão nos rins, consequência da violência policial.

De vez em quando ela tem que sair correndo para a emergência, cheia de dores”- conta Marlene dos Santos, fiel amiga e a cozinheira da ONG.

Conheci a Vânia, vendendo macaxeira e a coragem dela me conquistou, por completo- complementa Marlene.

Preta, pobre, periférica, Vania é uma mulher coragem e reinventa-se todos os dias.

Salve!