A escolha da profissão é um momento de ansiedade para adolescentes e adultos que pretendem iniciar a vida acadêmica ou mudar de carreira. Uma pesquisa realizada pelo Cedaspy Professional School (CPS), em 2019, apontou que cerca de 60% dos jovens estão indecisos quanto à carreira a seguir e outros 40% estão divididos entre áreas de atuação completamente distintas. 

Verônica Wolff, psicopedagoga do Centro Universitário Tiradentes (Unit/AL), explica que é comum o vestibulando não ter certeza sobre qual curso tentar e que, nesse momento, o importante é que ele seja acolhido pela família.

“A gente pode e deve participar muito dessa discussão, ouvir o que o filho tem a dizer e dar as ideias que muitas vezes o filho não tem e gostaria de ter. Os pais não devem fazer valer a opinião deles, mas, sim, agregar conhecimento, agregar segurança para esse filho”, orienta.

Verônica comenta que, em muitos casos, o estudante, após fazer o vestibular e ingressar na faculdade, percebe que realmente fez a escolha alinhada com a própria afinidade. Por outro lado, há casos de estudantes que escolhem uma graduação por afinidades que não são suas ou por pressão familiar, por exemplo.

Quando isso acontece, ou o estudante conclui o curso sem sentir prazer e segurança em seguir com a profissão para a qual foi qualificado, ou opta por prestar novamente o vestibular. “Esse estudante deve saber que não tem mal nenhum ele mudar de curso se achar que se identifica com outro. A melhor forma é ele pensar que está fazendo a escolha certa, mesmo que a conclusão de um curso superior demore mais um pouco”, reforçou a psicopedagoga.

A psicopedagoga ainda orienta que os estudantes em dúvida sobre qual carreira seguir podem buscar por um profissional qualificado para fazer um teste vocacional e pesquisar sobre os cursos com os quais sentem maior afinidade.

Dúvidas

Entre os estudantes que ainda não sabem o que cursar na faculdade está Madalena Lopes, de 17 anos. Ela concluiu o ensino médio em 2021 e agora estuda para prestar vestibular, ainda sem saber qual será sua futura profissão. 

Foto: cortesia ao CM

Madalena contou ao CadaMinuto que um dos fatores que dificultam esta escolha é a falta de iniciativa por parte de algumas escolas para apresentar os cursos aos alunos. 

“Assim a pessoa não conhece as profissões que os cursos abrangem, só tem noção de profissões que já são muito conhecidas ou que fazem parte do seu círculo de convivência, dessa forma fica difícil escolher um curso se você nem imagina quais profissões você poderia exercer quando formado”, aponta.

Os estudantes estão se formando cada vez mais cedo e, questionada sobre a pressão que isso exerce sobre os jovens, Madalena relata que não se sente madura o suficiente, mas que acredita que existem pessoas mais decididas do que ela, que não encontram dificuldade. 

No entanto, a vestibulanda afirma tentar encarar como um incentivo a rapidez com que tem que escolher sua futura profissão, pois “quanto antes eu decidir, melhor pra mim mesma”.

Ela explica, ainda, que já considerou vários cursos, em especial os das áreas das ciências exatas, mas nenhum a “fisgou” até o momento.

“Ainda estou buscando um com o qual eu me identifique de verdade, como as pessoas falam”, assume a estudante.

Escolha natural

Para a estudante Beatriz Vilar, de 17 anos, que está no terceiro ano do Ensino Médio, a decisão sobre o que cursar surgiu naturalmente. Ela afirma que, ainda quando estava no ensino fundamental, começou a estudar sobre assuntos relacionados à saúde e descobriu que queria trabalhar com pesquisas. “Pesquisando por cursos e faculdades, eu soube que para a carreira que eu quero seria o curso de Biomedicina”, completa.

Foto: Cortesia ao CM

De acordo com Beatriz, o ambiente escolar foi fundamental na decisão de sua futura profissão, pois foi lá onde ela teve seu primeiro contato com a área da biologia e “as aulas de laboratório, em especial, consolidaram essa escolha”.

Além disso, o apoio e incentivo familiar também tornou a escolha mais fácil:  “Meus pais sempre me apoiaram a ir atrás daquilo que amo e me incentivaram a estudar e cultivar o hábito da leitura”, enfatiza. 

Este ano, a jovem pretende prestar o Enem, visando conquistar uma vaga na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que oferta o curso desejado por ela.

Tecnologia aliada à educação

Para auxiliar nesse momento de escolha profissional, um grupo de pesquisadores do Núcleo de Excelência em Tecnologias Sociais (Nees), da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), desenvolveu o aplicativo Soutec, que pretende estimular estudantes brasileiros a escolherem a carreira que pretendem seguir.

O estudante deve responder 72 questões que avaliam suas preferências relacionadas a atividades de trabalho e, quando terminar, terá acesso a um resumo e a um relatório completo explicando qual é o perfil vocacional.

Na sequência, o aplicativo relaciona, automaticamente, esse resultado às características dos 215 cursos disponíveis no Catálogo Nacional de Cursos Técnicos (CNCT) e recomenda as opções que atendem, de forma mais adequada, a cada perfil de interesse.

A ferramenta possibilita, ainda, personalizar as buscas usando critérios como a localização em que o curso é oferecido, de acordo com a distância de onde os estudantes moram. Também é possível favoritar as opções e as instituições prediletas.

O coordenador do Instituto de Computação (IC) da Ufal, Alan Pedro, destaca que o foco é auxiliar com informações que ajudem, de forma objetiva, no momento da escolha: “Do ponto de vista dos alunos que estão concluindo o ensino fundamental, numa estimativa de mais de 10 milhões de estudantes, pretendemos empoderar estes jovens nas escolhas de suas carreiras profissionais, uma vez que eles terão mais clareza dos seus próprios interesses e valores”.

Já para os profissionais que estão no mercado de trabalho e pensam em mudar de área de atuação, Pedro afirma que, por meio do Soutec, poderão “redefinir um planejamento na sua carreira profissional, descobrindo os cursos que melhor atendem seus interesses”. 

*Estagiárias sob supervisão da editoria