Ela é uma jovem mulher, 22 anos, filha dedicada e mãe de um menino, moradora em uma periferia distante da Maceió turística, e desde cedo se reveste de uma imposta couraça social de cuidadora da vida familiar.
Ela não sabe o que é o “sextou”, pois a bagagem da vivência na pobreza educou-a para assumir tarefas, responsabilidades.
Foi ela quem teve que, aos 19 anos, reconhecer o corpo morto da irmã,16 anos, nas pedras do IML:-Eu tremi, chorei, mas, agora não tenho mais medos. Nem meu pai nem minha mãe tinham condições-afirmou
Ela tem um monte de sonhos internalizados, mas, se auto proibiu de sonhar, afinal tem que ter autocontrole, firmeza emocional para não desabar a família.
Ela, aos 22 anos, é a régua de equilíbrio.
Eu a observo, sem cerimônias, a palavra tropeçando, sem fôlego, na necessidade de dizer o que pensa e buscar respostas do médico, que se faz próximo e abre cancelas para que as pessoas se sintam à vontade.
Faz alguns meses que essa ativista conhece a moça diligente, cheia de pesos de responsabilidades, a cuidadora de processos intrínsecos e familiar, sempre com um riso escapulindo pelo canto da boca, e observando-a resolutiva, assertiva, participativa, conversadeira até fora da medida, surge o questionamento: Quem cuida do bem-estar mental dessa moça, que cuida de tanta gente?
Como construir uma rede de cuidados, tipo sororidade, nas periferias invisiveis?
Saúde mental, entende?
Salve, moça!