Aos 10 anos essa ativista cursava a antiga 4ª série primária, no Grupo Escolar Dr. José Maria Correia das Neves, o Frango Assado, como era popularmente conhecido, lá no bairro do Prado.
Fundado em 1954, o nome do grupo é uma homenagem ao advogado que foi secretário de Justiça, Saúde e, também, interventor, no início da década de 1940.
Aluna aplicadíssima, inteligência acima da média, tímida, observadora, preta, pobre e alvo constante do racismo recreativo, aquele que era/é rotulado de “brincadeira de criança.”
A menina aos 10 anos seguia o princípio de precisar “ser melhor do que todo mundo”, buscando o “aceite” social do corpo docente e até discente do grupo.
Mas não tinha jeito, o puxão de cabelos, os rótulos de cabelo de bombril, macaca,as risadas sarcásticas, o isolamento ostensivo, os papéis amassados jogados nela, a indiferenciação da professora e etc e tal, era praxe cotidiano e, com a paciência esgotada a menina saia da sua timidez para apontar o dedo fatídico, geralmente para meninos e dizia:- Lá fora, a gente acerta!
E, o lá fora era o corpo-a-corpo, o telequete físico, na defesa do direito do existir. A menina se embolava na areia da rua, com o agressor, não importava o tamanho, (mas, todos eles eram brancos), e mesmo que as plissas da saia escolar, atrapalhassem os movimentos, ela não se intimidava. Geralmente alguém saia chorando, e não era a menina.
No outro dia, a mãe era chamada à escola para ser advertida sobre a falta de educação da filha pretinha, e admoestrada que a educação familiar tinha falhas, menosprezando a mulher que fazia das tripas coração para criar os 9 filh@s.
E tinha suspensão, o que deixava os alun@s branc@s, imperativamente satisfeitos e o retorno a ordem, se fazia.
A culpa das brigas era sempre dela.
Nunca foi bullying. Era, e, sempre foi racismo.
E lá se foram 50 anos, a menina cresceu, virou ativista e continua na luta exausta contra o racismo estrutural, para que outras infâncias não sejam subjugadas, massacradas, por teorias de superioridade.
No futuro deixou a força física de lado e agora argumenta com palavras, nem sempre exatas.
Mas, de quando em vez dá saudades danada, daquela menina...
Salve!