Em entrevista ao programa Tribuna do Povo da Rádio Cacique FM, o ex-prefeito de Maceió e pré-candidato ao governo do Estado de Alagoas, Rui Palmeira (PSD), disse que o processo eleitoral desse ano vai passar pela “análise de biografias” dos pretensos candidatos.
O problema é que se a memória dos alagoanos não for curta verá que em passado não tão distante essas mesmas tais biografias se entrelaçam e se separam ao sabor das circunstâncias. E aí sobra um questionamento que vale para todo mundo: “O que vocês fizeram no verão passado?”.
Vejamos o próprio caso de Rui Palmeira.
O ex-prefeito de Maceió foi – enquanto na gestão – um dos principais rivais políticos do MDB do senador Renan Calheiros e Renan Filho. Nesse mesmo período, esteve no PSDB e era um dos principais nomes do tucanato ao lado do senador Rodrigo Cunha (ex-tucano, agora no União Brasil).
Na reta final de seu segundo mandato, Rui Palmeira deixou o PSDB em meio a entraves políticos com o próprio Cunha, uma vez que o senador apoiou João Henrique Caldas, o JHC (PSB), para prefeito de Maceió. Palmeira não digere JHC.
Sem apoiar JHC, ao apontar um candidato para a sua sucessão, Rui Palmeira se uniu ao seu antigo rival, o ex-governador Renan Filho, para juntos apoiarem a candidatura de Alfredo Gaspar de Mendonça, que na época integrava os quadros do MDB.
Gaspar de Mendonça foi derrotado por João Henrique Caldas. Após a derrota sofrida, Alfredo Gaspar se tornou secretário de Segurança Pública do Estado de Alagoas na gestão de Renan Filho.
Agora, o ex-secretário de Segurança Pública pertence ao União Brasil e é pré-candidato a uma das cadeiras da Câmara dos Deputados no grupo liderado pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (Progressistas), que tem como candidato ao governo o senador Rodrigo Cunha. Ou seja, Gaspar de Mendonça, foi para a oposição ao governo do qual fez parte.
É válido lembrar que Lira já tentou a aproximação com Rui Palmeira e vice-versa. O próprio ex-prefeito falou disso e colocou que a aliança só não se firmou porque ele não quis deixar o PSD para ir para o União Brasil.
Aliás, ainda é importante recordar que, na época em que Rui Palmeira era prefeito, Arthur Lira e o ex-senador Benedito de Lira (Progressistas) eram fortes aliados do ex-prefeito da capital alagoana, mas agora Rui Palmeira é uma espécie de “terceira via” entre os Calheiros e o grupo de Lira-Cunha.
Desta forma, a biografia do ex-prefeito – do ponto de vista das alianças políticas – mostra alianças circunstanciais com todos os seus rivais eleitorais de agora. Mas isso não ocorre apenas com ele, mas com quase todos os políticos-caciques alagoanos.
A trajetória de qualquer deles é cheia dessas contradições que muito mais falam das circunstâncias de uma eleição e da disputa de poder, que necessariamente de um projeto para o Estado de Alagoas.
Não por acaso, entre os “cameleônicos” também se encontra o senador Fernando Collor de Mello (PTB), que – em sua reeleição passada – era o candidato ao Senado Federal na chapa dos Calheiros. Collor já foi até mesmo candidato ao governo do Estado disputando o apoio do PT dos ex-presidentes Lula e Dilma. Agora, é o bolsonarista do pleito.
Já o grupo liderado pelo senador Renan Calheiros e o governador Renan Filho é, atualmente, o da pré-fabricação do deputado estadual Paulo Dantas (MDB) como candidato ao governo do Estado. Quase inexpressivo durante o mandato, Dantas surge como o “novo homem” fruto do ventre emedebista: mais um forno fisiológico qualquer que arrastou mais da metade da bancada da Assembleia Legislativa, incluindo ex-oposicionistas como o deputado estadual Bruno Toledo (MDB).
Dantas começou como o homem moldado pelo presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Victor. Mas depois que Victor levou uma rasteira de Lira e perdeu o União Brasil, Dantas virou o “amigo de infância” dos Calheiros. Assim, tipo, um novo Luciano Barbosa...
É que o “calheirismo” é pragmático e com aliados circunstanciais que ou se afastam no momento preciso para terem biografias próprias (como fez Luciano Barbosa) ou se perdem na história após terem sido usados. É que o calheirismo só se preocupa mesmo com a cozinha dos Calheiros no poder.
O fato é que analisar as biografias político-eleitorais dos candidatos que estão no páreo nas eleições de agora é se questionar onde se encontram as sutis diferenças, pois – nesse conto de fadas da Terra dos Marechais - amizades e inimizades eternas são promessas para o sonho de uma noite de verão e nada mais. Afinal, tudo muda, tudo mudará...
Essa pode ser (talvez, quem sabe...) a razão máxima pela qual o senador Rodrigo Cunha tem tanta aversão a posar nas fotos de caciques, mas só posar mesmo... Afinal, é a imagem de sua biografia.
Não quero dizer que é o caso do ex-tucano, mas em alguns casos, a imagem da biografia é mais importante que a biografia em si, já que nem todas as páginas precisam ser lidas e algumas podem ser arrancadas. É possível até vender o livro pela capa! Campanha serve para isso. Serve para Dantas, serve para Rui Palmeira, serve para Cunha e quem mais vier.
É tarefa dos marqueteiros vender o novo de novo, com suas biografias, sem que nunca o novo fique velho...