Tem sido grande a tentativa do senador Rodrigo Cunha (União Brasil), pré-candidato ao governo, de negar que o seu palanque é bolsonarista em Alagoas. Começar assim não é bom sinal.
Lembra a campanha de Manoel Gomes de Barros em 1998 contra Ronaldo Lessa. Eleito vice de Divaldo Suruagy em 1994, o titular sempre disse que administrava 'a quatro mãos', o que significava que Mano participava de todas as decisões.
Com o afastamento e depois renúncia de Suruagy por causa de uma grave crise social e administrativa, Mano assumiu. Fez um bom governo e candidatou-se á reeleição. Na campanha os adversários o atacaram lembrando do governo a 'quatro mãos'. O carimbo pegou, Lessa venceu.
Começar algo negando o que é fato é complicadíssimo.
Porque quem forma e empresta grupo político para dar estrutura ao senador é o presidente da Câmara dos Deputados Arthur Lira (PP-AL), notório bolsonarista líder do centrão - grupo de partidos que dá sustentação ao governo federal.
Cunha saiu do PSDB para o União Brasil. Nessa sigla estava Marcelo Victor, presidente da Assembleia - que apoia o ex-presidente Lula e Paulo Dantas. O partido lhe foi tomado por Arthur Lira. E tem mais, Arthur deve indicar os candidatos que vão compor a chapa majoritária de Rodrigo Cunha.
Imaginar, portanto, que dizer que não apoia e que não vai pedir votos para Jair Bolsonaro, afirmar que quem vai apoiar o presidente é o senador Fernando Collor (PTB) quando quase tudo e todos ao seu redor são bolsonaristas, é achar que o eleitor é pouco inteligente.
Imaginar ainda que no seu palanque vão pedir votos para Bolsoaro enquanto ele vai silenciar ou pedir apoio para um nome pouco competitivo do seu partido vai significar ser contra/neutro, não cola.
E Arthur Lira precisa que o presidente Bolsonaro seja reeleito para que ele mantenha o imenso poder que detém sendo reeleito presidente da Câmara Federal na nova legislatura.
Ou seja, a candidatura de Rodrigo Cunha é a seis mãos: as dele, as de Arthur e as de Bolsonaro.