A. me conta que tem quase 70 anos de idade e faz muito tempo que trabalha para mesma patroa.

-Só venho uma vez por semana. Não tenho mais força para fazer faxina pesada, minha coluna não aguenta. O corpo da gente envelhece, né?- afirma ela.

A preta tem  uma conversa fluída,  interpretativa da realidade dos direitos. 

-Teve um tempo que a patroa branca gritava comigo, falava alto e os vizinhos ouviam. Era um constrangimento danado. Mas, daí falei sério com ela:- Porque você elogia meu trabalho para outras pessoas e faz tantas criticas para mim? Parece que não faço nada certo. Não é porque a gente é pobre que vai ficar ouvindo desaforos. E aí os gritos acabaram. 

Ela confessa que está cansada, a exaustão dos anos na lida (quase 70 anos),  e na esquina do seu trabalho nos despedimos, e , com um thau A. saiu arrastando seu corpo preto para mais um dia de labuta, na casa da patroa.

Quase todas brancas.

Por que no bairro nobre, onde moro, quase 100% das empregadas domésticas são pretas, iguais a mim?

Serei eu uma preta fora do ninho?

Será?