A morte do menino João Pedro, de 9 anos, na manhã desta quarta-feira (23), depois que uma barreira deslizou, soterrando parte da casa onde ele morava com a família, na Grota do Ouro Preto, dominou a sessão desta quarta-feira (23), na Câmara Municipal de Maceió (CMM), quando vereadores cobraram ações para prevenir novas tragédias similares e chegaram a trocar farpas. 

Em pronunciamento contundente na tribuna, a vereadora Olívia Tenório criticou o que considerou uma tentativa do vereador Siderlane Mendonça, líder do governo, de “responsabilizar a população” pela tragédia.

“Nunca culpem a vítima, isso é inaceitável... Não era assim que eu queria começar, mas não aguento mais. Uma criança morreu. Uma criança de apenas nove anos, João Pedro. Não é uma estatística, não são números, é uma vida. Ele morreu e a culpa é dele, porque não quis sair de casa? Vereador, tudo tem limite. Para que tá feio!”, disse Olívia, se dirigindo a Siderlane.

“... Vão falar que estou em TPM, mas estou assim porque a cada filho perdido por uma mãe, todas as mães sofrem. Isso é muito mais sério do que qualquer coisa”, completou.

Vereadora Olívia Tenório/Reprodução

Moção de pesar

Primeiro a levar o assunto à tribuna, o vereador Leonardo Dias apresentou uma Moção de Pesar - aprovada durante a sessão - em razão da morte da criança, lamentando que, há menos de um ano, em junho passado, Benjamin, um bebê de dez meses, também morreu após a queda de uma barreira, na Chã da Jaqueira. 

Ele lembrou que há vários anos a capital sofre com a falta de infraestrutura para as quadras chuvosas, cobrou a realização de obras nas encostas e criticou a “desculpa” de que choveu mais do que esperado. “Todo ano é isso. Se espera 200, façam o trabalho para 500. De seis em seis meses vamos presenciar mortes de crianças, de pessoas soterradas?”, desabafou.

Vereador Leonardo Dias/Reprodução

A vereadora Teca Nelma também lamentou a morte de João Pedro e reforçou o requerimento de Dias para que Defesa Civil compareça à Casa para prestar esclarecimentos sobre o ocorrido e o que está sendo feito.

Em aparte, Siderlane Mendonça respondeu que não “podemos atribuir somente à gestão atual toda responsabilidade” e citou a histórica falta de uma política de habitação na capital. O líder do governo também fez um balanço das ações que estão sendo feitas pelo Município, como a concessão do Aluguel Social para famílias em área de risco; o trabalho permanente da Defesa Civil e a limpeza de galerias.

Ele lembrou ainda que, mesmo correndo riscos e tendo a oferta do Aluguel Social, muitas pessoas se negam a deixar suas residências, e pediu que a população também faça sua parte.

Vereador Siderlane Mendonça/Reprodução

Leonardo reagiu dizendo ser “o cúmulo do absurdo” querer culpar os moradores das áreas de encostas pelas tragédias e pediu que Siderlane tivesse respeito às vítimas. 

Em resposta, o líder do governo acusou o colega de “fazer palanque” e de não fazer nada pela população, ao contrário das ações dele próprio em áreas de risco. 

A discussão continuou com Dias alegando que Siderlane quer medir a todos pela própria régua  e que nunca fez “proselitismo político”, mas “na ânsia de defender o governo”, ele acaba não escutando os colegas.