Muitos estudos mostram os benefícios específicos de jejuar e por isso foi surgindo mais uma estratégia-modinha para manter acesa a busca desesperada de milhares de pessoas pelo emagrecimento milagroso. Eu não desconsidero os estudos, afinal, eu também baseio as minhas condutas em estudos científicos. Porém, o jejum pode funcionar especialmente no laboratório, nos estudos in vitro, ou em estudos com humanos em situações controladas e totalmente diferentes da vida real. Por isso, na prática diária do paciente nem sempre essa estratégia é a melhor opção e quando se trata de emagrecimento, pode funcionar e trazer ótimos resultados, assim como qualquer outra prática extrema que irá te trazer resultados extremos. Obviamente ficar sem comer vai emagrecer.
O café da manhã
Alguns profissionais falam que o café da manhã - como principal refeição do dia - é uma história inventada pela indústria dos cereais matinais. Porém, o café da manhã já existia muito antes dos produtores de leite e cereais fazerem o seu marketing. Além disso, existem milhares de referências científicas comprovando que o café da manhã é uma refeição importante, especialmente para quem quer emagrecer, pois ajuda a manter a fome sob controle no decorrer o dia.
O que mais vejo no dia-a-dia do consultório são pacientes que não fazem café da manhã porque preferem dormir até o último minuto e depois exageram no almoço e passam a tarde beliscando e assim vai, como reflexo de fome acumulada pela má alimentação do dia, incluindo a falta do café da manhã.
O efeito rebote
O que alguns profissionais muitas vezes não mencionam é que quando fazemos jejum intermitente as células de gordura detectam isso depois de um determinado tempo e interpretam como se tivéssemos passando fome, com falta de alimentos. As células entram em modo de economia para se proteger. Esse mecanismo, comprovado cientificamente, é conhecido como “starvation resistance“ - resistência ao jejum.
O organismo se protege da escassez através do acúmulo deliberado e mantem o metabolismo lento. Além disso, de nada adiante “sair do jejum” e na primeira refeição extrapolar as calorias diárias. Sinto te dizer, mas você se sacrificou pra nada! O jejum precisa ser responsável e associado a uma dieta calculada pelo nutricionista.
O transtorno alimentar
Fazer jejum, na visão de um nutricionista que trabalha com nutrição comportamental, é chegar próximo ao perigo de desenvolver um comer transtornado ou transtorno alimentar. Afinal, é isso que anoréxicos, bulímicos e comedores compulsivos fazem: uma restrição severa depois de uma orgia alimentar, pelo medo desesperado de engordar, ou o exagero e a compulsão vêm justamente após o jejum prolongado.
Além disso, a falsa sensação de que se pode superar a fome e controlar o corpo, em que a pessoa se sente poderosa e liberta ao constatar que consegue ficar sem comer, é um fator preocupante quanto a anorexia, pois é exatamente assim que as anoréxicas se sentem e, por isso, estão sempre tentando vencer a fome e criando estratégias para isso. Afinal, elas sentem fome, mas se sentem poderosas ao “vencê-la”.
Por fim…
Se impor uma restrição alimentar severa para emagrecer é como querer parar de respirar: a gente aguenta um tempo e depois vem o impulso incontrolável da sobrevivência de que precisamos respirar. Assim é com a comida!
Espero que esse post tenha te ajudado de alguma forma a entender melhor que apesar dos benefícios científicos, muitas vezes na prática e na realidade de muitos, o jejum apresenta efeitos colaterais. Fazer jejum não é para todos. Pode não ser bom para você, e não tem problema nenhum nisso. Por isso, não se julgue se você não consegue fazer essa estratégia!
Para emagrecer é necessário uma dieta com déficit calórico e a melhor dieta é aquela que VOCÊ consegue seguir!
Beijos da nutri