Irineu Evangelista de Souza, o Barão e Visconde de Mauá, sempre foi um

Mauá foi um dos maiores empreendedores da história do Brasil e sofreu com as interferência políticas egoístas

empreendedor à frente do seu tempo. Foi incompreendido e contestado por uma sociedade rural e escravocrata, pois defendia o investimento em tecnologia, a valorização da mão de obra e o fim da escravidão. 

Chegou a controlar mais de 17 empresas localizadas em 6 países, sendo que possuía as maiores empresas do Brasil na época. Na obra “Exposição do Visconde de Mauá aos credores de Mauá & C e ao público” expõe as vísceras da inveja e o uso da máquina pública por políticos para inviabilizar seus adversários, sem pensar nas consequências destes atos para a sociedade, sendo Mauá e seus negócios diretamente afetados por isso e, consequentemente, a perda inestimável de empregos e renda.

Outro empreendedor que passou por percalços parecidos foi Percival Farquhar, um destemido e arrojado financista com grande trânsito pelo mercado de capitais da Europa, que levantou desde grandes projetos de infraestrutura a grandes empreendimentos que existem até hoje. Em várias ocasiões, governantes e políticos tomaram medidas que prejudicaram diretamente seus investimentos e seus negócios, e mais uma vez, a população e o Brasil perderam. Até por encampação de sua empresa do setor de siderurgia ele passou. Isso fez com que abandonasse o Brasil após tantos percalços, insegurança jurídica e perseguição governamental promovida por interesses, na maioria das vezes, não republicanos.

Poder-se-ia passar todo o texto falando de diversos casos de projetos empresariais ou mesmo sociais que foram destruídos por decisões meramente políticas, muitas vezes motivadas por desejos de poder, inveja ou mesmo de cobiça em toda a história do Brasil. Infelizmente, nosso país é conhecido por sua insegurança jurídica e a dificuldade em se fazer negócios, principalmente em setores em que haja regulação governamental, ou a necessidade de financiamento público, ou mesmo da participação direta do governo.

Em todo o país, políticos agem apenas focando em seus próprios interesses, seja buscando prejudicar um adversário, seja focando em apresentar uma agenda política que lhe permita dividendos eleitorais. Tudo isso, na maioria das vezes, sem produzir nenhuma externalidade positiva. Fora quando não prejudicam o normal desenvolvimento econômico e social! Acabam por deixar o ente subnacional ou o próprio governo federal entrar em crise fiscal com evidentes repercussões na vida dos mais pobres.

Nos últimos 30 anos tem sido muito fácil identificar a projetos que aumentem despesas ou dão benefícios sem qualquer resultado relevante para melhoria da vida das pessoas. Projetos sem qualquer responsabilidade fiscal. Em vez destas situações melhorarem, à medida que o Brasil fosse amadurecendo sua democracia e suas instituições, aconteceu justamente o contrário: um crescente desperdício de recursos públicos. É necessário que nossos representantes se envolvam, discutam, analisem e verifiquem o mérito e os resultados esperados. É preciso sair dessa agenda de atendimento a pequenos grupos organizados de interesse e buscar uma das essências da democracia, que é a discussão do orçamento público. 

Para isso, é preciso terminar com o “orçamento secreto” que até possui a figura do “corretor de emendas”, criar uma regra crível para o endividamento público, diminuir paulatinamente as vinculações orçamentárias e substituí-las por métricas de resultado, implementar o Spending Review e o Medium-Term Expenditure Framework (MTEF) através da mudança da cultura de planejamento orçamentário e financeiro, bem como alocar melhor os parcos recursos do governo para os programas com mais benefícios à sociedade (VALUE FOR MONEY – conceito semelhante usado pelos investidores de capitais). Somente com a profissionalização, envolvimento e transparência absoluta poderemos ter políticos e gestores que foquem no que realmente é importante. 

Na minha experiência recente, aqui em Alagoas, tenho me deparado com personagens da mesma forma que Mauá e Farquhar, que enfrentaram e perderam. Entretanto, a força da profissionalização da gestão, a transparência, instituições mais fortes, a segurança jurídica e projetos desenhados com métricas e objetivos claros de atender cada vez melhor a população foram paulatinamente vencendo esses tristes personagens que encontramos em todo Brasil. 

Felizmente, nosso exemplo tem inspirado gestores e políticos por todo país. Não podemos retroceder mais. Precisamos avançar e, isso também passa por escolhermos nossos representantes com responsabilidade, usando como um dos critérios de escolha os que deixam legado para a sociedade. É preciso olhar a política não mais com o fígado, mas com as possibilidades que esses atores estão oferecendo para a sociedade. Discutir e debater os temas de forma aberta, e não na alcova, com objetivos claros do bem comum.

George Santoro