A invasão da Rússia à Ucrânia, que deu origem a uma guerra no território europeu, tem mobilizado as principais lideranças globais e já provoca implicações no Brasil, grande parceiro comercial russo. Ao Cada Minuto, o economista alagoano, Cícero Péricles, explica que o conflito vai afetar o valor de produtos brasileiros, como combustíveis e alimentos.
O especialista afirma que, neste mês de março, o preço dos combustíveis já sofreu com um novo aumento após o início da guerra. Ele também comenta sobre os principais produtos e áreas afetadas e os reflexos do posicionamento do presidente Jair Bolsonaro diante das ações russas.
CM: Quais os impactos econômicos para o Brasil com o efeito da guerra entre Rússia e Ucrânia?
CP: O primeiro dos impactos, sem dúvida, é o da diminuição do comércio brasileiro com os países em conflito. A Rússia e a Ucrânia, assim como um país vizinho, a Bielorússia, também afetado pelo conflito, são importantes parceiros comerciais do Brasil, tanto para as exportações brasileiras de commodities como soja, carne, café, açúcar, assim como para importações de adubos e fertilizantes de potássio e nitrogênio, cujo principal fornecedor é a Rússia.
CM: Esse conflito pode ter efeito em itens essenciais da população?
CP: O segundo efeito perverso deste conflito – e o mais visível – é gerar a elevação dos preços, como do petróleo e gás, dos fertilizantes e de produtos agrícolas, como o trigo, impactando nos países importadores. O efeito principal é o provável aumento dos preços dos combustíveis e dos produtos agrícolas que, por sua vez, elevam os preços dos transportes e da alimentação dos brasileiros.
CM: Quando os efeitos podem começar a serem sentidos pela sociedade?
CP: Os efeitos serão sentidos ainda no mês de março. O petróleo, por exemplo, sofreu um aumento, elevando o preço do barril de 89 dólares, no começo de fevereiro, para 110 dólares agora no começo de março. Como a Petrobras indexou os preços internos dos combustíveis ao valor internacional do barril, assim como da cotação do dólar, é muito provável que um novo aumento seja anunciado nos próximos dias ou semanas.
O trigo, no mercado mundial, já alcança preços 40% mais altos. Os fertilizantes já subiram de preços dada a possibilidade de faltar no mercado. Essas notícias afetarão, com certeza, os preços agrícolas e dos combustíveis alimentando uma inflação que alcançou 10,5% no ano passado e já projeta um índice também elevado, de 5,6% para este ano.
CM: As atitudes do presidente Bolsonaro podem trazer consequências para o país?
CP: As posições do governo são contraditórias, confundindo mais que definindo uma posição clara sobre o conflito entre Rússia e Ucrânia. Ao tempo que o presidente brasileiro visitou a Rússia em pleno clima de tensão pré-invasão da Ucrânia, dias depois se absteve, no Conselho de Segurança da ONU, de condenar a invasão.
Na votação da Assembleia Geral da ONU, esta semana, [Bolsonaro] resolveu votar contra, condenando a ação russa. Formalmente, o governo brasileiro tem anunciado uma posição de neutralidade, o que lhe dá chances de continuar negociando tanto com os países em conflito como aliviar as pressões dos Estados Unidos e países europeus.
Conflito entre Rússia e Ucrânia
A Rússia atacou a Ucrânia nas primeiras horas da madrugada de 24 de fevereiro e o conflito chega na segunda semana. O ato gerou reações de líderes mundiais e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Conforme as informações divulgadas, as explosões e sirenes são ouvidas em pelo menos 16 regiões do país, incluindo a capital, Kiev, e em áreas separatistas do leste ucraniano.
O presidente ucraniano, Vladimir Putin, justificou a ação durante pronunciamento ao afirmar que a Rússia não poderia “tolerar ameaças da Ucrânia”. Putin recomendou aos soldados do país que “larguem suas armas e voltem para casa”.
Durante a mais recente ataque, militares russos tomaram o controle da usina nuclear de Zaporíjia, a maior da Europa. A entrada no local é estratégica para o fornecimento de energia no país, o que gerou tensões após um prédio no complexo pegar fogo. Até o momento, foi negado um possível vazamento radioativo.
*estagiária sob supervisão da Editoria