A cena é comum em diferentes pontos de Maceió. Numa faixa de pedestre, alguém vai atravessar a rua. Ao ensaiar o primeiro passo, porém, bate aquela dúvida angustiante: o motorista vai parar? Depende. A região, o horário e o fluxo de veículos são determinantes. Mas como saber se há boa margem de segurança para caminhar ou muito risco de ser atropelado? O problema é exatamente não haver uma resposta certa para tamanha questão.
Em diferentes bairros, vejo que os carros param e dão a vez a quem está a pé e vai pegar a faixa – mesmo sem um semáforo que obrigue o freio. Ainda bem! É sinal de boa educação de quem está ao volante, sinal de civilidade. Esse comportamento, no entanto, não está consagrado na cabeça de todos, na carta de princípios para a coletividade na capital alagoana. Não sei se fui claro...
Na beira da praia entre Pajuçara e Jatiúca, onde o tráfego de turistas é intenso pelas vias da orla, a todo instante carros param para o pedestre usar a faixa. Ainda assim, tem sempre um pouco de suspense. Já em avenidas de alta velocidade, como a Durval de Góes Monteiro, complica muito mais. Não dá para arriscar. E como não existe nada formal sobre isso, melhor procurar um ponto com semáforo ou uma passarela, quando há alguma por perto.
Salvo engano, esse negócio de botar o pé na faixa e esperar que o condutor pare sua máquina não é hábito antigo em Maceió. Com vasto conhecimento dos dois lados do trânsito, sei que a postura da maioria dos motoristas sempre foi passar direto, mesmo que haja uma ou mais pessoas à beira da pista, prontas para seguir até o outro lado. E sempre na faixa.
Quando foi que a coisa começou a mudar? Precisamente não sei, mas posso chutar que faz poucos anos, uma década talvez. Ou será que começou antes? O que importa é que a adesão a essa conduta civilizada de respeito ao outro, especificamente no trânsito, decorre exclusivamente da chamada dinâmica das relações humanas.
Enquanto isso... O poder público dá pouca ou nenhuma atenção para o tema. Deveria ser o contrário. Nunca vi anúncios educativos do Detran ou da SMTT sobre o que escrevo agora. Por quê? E olhe que esses órgãos nadam em dinheiro. Tem propaganda pra todo lado. Não faltam recursos para uma campanha que massifique a ideia: na faixa, pare o carro; a vez é do pedestre.
Nos primórdios, ouvia falar de Curitiba e Brasília como cidades nas quais todo motorista respeita a faixa e dá preferência ao caminhante. Mas isso não deve ser visto como uma excentricidade típica de uma região. É possível tornar o hábito uma marca nacional – e Maceió poderia dar exemplo. Afinal, como se vê diariamente, a prática já existe em boa medida.
Defender civilidade no Brasil de hoje é quase um ato subversivo – uma ideia fora do lugar, como define certa corrente de crítica de cultura. A galera do Bolsonaro, é claro, considera tudo isso daí um tremendo mimimi. Para um bolsonarista ao volante, o negócio é passar por cima de tudo, não importa se tem faixa, se tem gente.
Mas, fora as circunstâncias trevosas da época, passou da hora de uma investida oficial nessa área. Parar o veículo ao ver uma faixa e dar passagem ao pedestre é um sinal definitivo de avanço nas relações sociais. Se não for assim, será sempre o elogio da barbárie.
(No clima de festança, mesmo na faixa, redobre a atenção ao partir para o lado de lá).