Observo os barracos de taipa expelindo pobreza por cada poro do barro feito  à mão e na pressa do abrigo, adornado por  um esgoto a céu aberto, que  expõe os excrementos da população, já exausta da miséria  secular e recorrente. População essa que, de tão exaurida pelo sofrimento, perfila sorrisos conformados, ao receber as cestas básicas da Fundação Cultural Palmares,(esquecidas em um galpão e entregue depois de resgatadas) que matam a fome de estômagos aflitos, por 15 dias e depois fica a Deus dará.

Os quilombos alagoanos são temperados pelo desprezo institucional, muitos deles não tem o essencial: água, mas,TEM  a fome torturante e aguda, um  vírus que prolifera.

A pobreza extrema sedimenta o território para as agravantes vulnerabilidades, que se transformam em enfermidades, desnutrição, doenças da alma, covid (que matou um número considerável da nossa população), enfim, feridas abertas, que muita gente quer botar um curativo provisório , para voltar mais  adiante à caça dos votos.

Zumbi é  símbolo de luta, mas, pensa aí comigo, para celebrar Zumbi , os órgãos públicos carecem assumir compromissos estruturantes objetivando dar  fôlego para  o povo quilombola  alimentar a substantiva história ancestral, como referência de luta e partilha de saberes.

 E por que não o fazem?

Eu vi a miséria  a olho nu, sem os disfarce dos discursos oficiais, em um quilombo de Alagoas e não foi nada agradável.

Somos, nós pret@s uma população, terrivelmente, negligenciada, e, mesmo assim celebrarmos  o 20 de novembro, sem  enfrentamentos urgentes, em nome das políticas públicas de estado,  eficazes e eficientes.

Precisamos ir além , das apresentações culturais, ou o toque de tambor, no subir e descer a serra midiática.

Precisamos retroalimentar nosso espirito de luta (lembra do objetivo da luta de Aqualtune, Zumbi, Ganga Zumba e tantos mais?) 

Essa história não é sobre mim, ou sobre você. É sobre nós. É sobre os quilombos alagoanos.

Se existe populações inteiras à margem social ,então nossa luta, como um corpo orgânico em  movimento negro,  está bem capenga e a  miséria, a fome, o nem-te-ligo vão continuar matando pret@s, se não nos levantarmos dessa cadeira colonizada e cômoda, em que ajeitamos nossas vidinhas;

Os Quilombos Alagoanos são nossos territórios de pertença, mesmo que estejamos nos movimentando nos espaços da urbanidade preta. 

Precisamos tirar essa capa de fulanização, indiferençada e desimportância.

Precisamos voltar os olhos de luta para os nossos quilombos alagoanos.

Todo solo de quilombo é sagrado, não é só o dos Palmares.

Todos!

O Dia da Consciência Negra, já acabou?