Laudelina de Campos Melo, um dos maiores nomes na luta das mulheres negras e empregadas domésticas por direitos e dignidade no Brasil pós Lei Áurea.
Filha de uma doméstica escravizada, desde cedo, Laudelina de Campos Melo deu mostras que não toleraria o racismo. Tanto que, aos 9 anos de idade, partiu para cima de um capataz que ameaçou chicotear sua mãe. Nascida em 1904, na cidade de Poços de Caldas, Laudelina também fez história em Santos e São Paulo. Ela dedicou sua vida à realização de um sonho: fazer com que as empregadas domésticas, muitas vezes tratadas como escravizadas, conquistassem direitos trabalhistas.
Pelos seus ideais, Laudelina alistou-se como voluntária da brigada militar santista durante a Segunda Guerra Mundial, após ler Mein Kampf (Minha Luta), livro de Adolph Hilter proibido por Getúlio Vargas. Laudelina também desafiou a elite de Campinas nos anos 1950 e 1960. A cidade localizada há pouco mais de 100 km de São Paulo foi a última cidade do país a abolir a escravidão e foi conhecida como Bastilha Negra, devido os maus tratos recebidos pelos escravizados. Suas ações, como reunir mulheres negras para fazer piqueniques em praças onde apenas brancos costumavam frequentar, atraíram a atenção dos jornais; tanto que Laudelina ficou conhecida como "O terror das patroas".
Inconformada com a situação das meninas negras de Campinas – que não eram aceitas em alguns clubes e academias –, Laudelina usou seu carisma e influência para criar uma escola de bailados que também atendia crianças moradoras das ruas do centro. Mesmo com pouco estudo, não se intimidou diante de nomes como Juscelino Kubitschek, Jarbas Passarinho e Orestes Quércia. Guerreira é um adjetivo que resume bem o caráter intempestivo e único que fez de Laudelina uma das mulheres negras mais importantes da história contemporânea do Brasil. Muitas das conquistas que as classe das empregadas domésticas hoje desfrutam têm relação direta com a luta da mineira.
Fonte: Roniel Felipe, autor do livro Negros Heróis: histórias que não estão no gibi
Título - Joel Paviotti
Foto: Arquivo do Sindicato das Empregadas Domésticas