Douglas era preto e pobre, muito pobre. Morava em um casebre com os pais e mais sete irmãos, todos pequenos. Um dia pedi para trazerem uma embalagem de sabonete para fazermos a leitura e descobrirmos o mundo das letras partindo da realidade daquilo que vivenciavam (tudo aquilo que ensinam a gente a fazer com as crianças). Douglas não trouxe! Não falou! Só se calou quando questionado.
Quando cheguei perto e perguntei o porquê não havia trazido, ele me olhou e respondeu com a maior naturalidade: "Não temos sabonete. Só tomamos banho com água, na torneira".
Soco no estômago, olhos marejados de lágrimas e a certeza de que faria do meu caminho uma luta, por eles, por mim. Agora entendia a sujeira do caderno e o olhar parado de olho no vazio.
Nos ensinaram a educar a partir da realidade das crianças, mas não ensinaram que algumas realidades doem mais que outras.
De Douglas, que queria ser catador de papelão, como o pai, dito com orgulho, não sei mais nada. Mas sempre que esmoreço, lembro-me dele e retorno à luta! Que você esteja bem, Douglas.
Fonte: aescolafala