O blog partilha  a história de como surgiu o 20 de novembro:

Em 2021, terá se passado 50 anos da primeira comemoração do 20 de novembro, que ocorreu em Porto Alegre e foi evocada pelo Grupo Palmares. Oliveira Silveira foi quem liderou este movimento de ressignificação da data da consciência negra. Ele procurava uma data para substituir o 13 de maio de 1888, dia em que princesa Isabel aboliu a escravatura, e chegou ao 20 de novembro. Este dia era especial pois valorizava o guerreiro Zumbi do Palmares, herói da resistência negra. No ano de 1971, então, o 20 de novembro foi comemorado pela primeira vez.

A ideia de evocar os 50 anos do 20 de novembro veio da necessidade de assegurar a origem da data.

Desde o início da década de 1970, Oliveira Silveira, Antônio Carlos Côrtes, Ilmo da Silva, Vilmar Nunes, Jorge Antônio dos Santos (Jorge Xangô) e Luiz Paulo Assis Santos recorrentemente encontravam-se em frente a tradicional Casa Masson da Rua da Praia, no centro de Porto Alegre. Reuniões posteriores incluíram membros e culminaram com a consolidação do Grupo Palmares, focado nos estudos de artes/literatura/ teatro.  

Segundo Oliveira Silveira, a primeira reunião oficial do grupo aconteceu na casa de seu falecido sogro, José Maria Vianna Rodrigues, e sogra, Maria Aracy dos Santos Rodrigues, na companhia de sua pequena e única filha Naiara Rodrigues Silveira e sua então esposa Julieta Maria Rodrigues, no bairro Bom Fim, antiga Colônia Africana de Porto Alegre. Dado pelo sogro, o livro do português Ernesto Ennes “As guerras nos Palmares”, de 1938, serviu de inspiração para a evocação do 20 de novembro. Segundo Antônio Carlos Côrtes, a segunda reunião oficial aconteceu na casa de seus pais no centro da cidade, quando foi escolhido o nome Palmares ao grupo. Outras reuniões do grupo foram realizadas no bar da Faculdade de Filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), no Campus Central.

Então, num contraponto as celebrações do 13 de maio, na noite do 20 de novembro de 1971 o Clube Social Negro “Marcílio Dias” – situado na Av. Praia de Belas de Porto Alegre e fundado em 1949 – acolheu a programação do Grupo Palmares para homenagear Zumbi. Mas a ação só foi autorizada após o Grupo Palmares passar pela censura da Polícia Federal e provar que não era o Grupo “Vanguarda Armada Revolucionária Popular – VAR-Palmares”, monitorado pelo Regime Militar no Brasil.

O ato evocativo de 1971 foi registrado pelo jornal Folha da Tarde da capital gaúcha que publicou a foto tirada por Irene Santos da primeira comemoração. Estavam presentes Oliveira Silveira, Nara Helena Medeiros Soares, Antônio Carlos Côrtes, André Machado, Salatiel e Lillian Argentina Braga Marques, Leni Souza, Antônia Mariza Carolino, Helena Vitória dos Santos Machado, Décio Freitas, entre outras pessoas que se fizeram presentes motivadas pelas divulgações do evento.

Em 1972, o jornal Zero Hora da Rede Brasil Sul – RBS/Globo dedicou a Revista ZH as ideias do Grupo Palmares. O jornalista gaúcho – cachoeirense Alexandre Garcia – em 13 de maio de 1973, publicou a matéria “Negro no Sul não quer mais Abolição como data da raça” no Jornal do Brasil do Rio de Janeiro. A entrevista foi realizada com Helena Vitória dos Santos Machado, Antônia Mariza Carolino, Oliveira Silveira e Marli Carolino, que aparecem na foto. Em 1974, o Jornal do Brasil publicou o Manifesto do Grupo Palmares, que pedia a reformulação dos livros didáticos sobre as questões negras. Depois disso, o Grupo Palmares passou a ampliar suas atividades em diversas frentes, principalmente articulando-se nacionalmente com outros movimentos culturais e sociais.

Fonte: https://www.ufrgs.br/oliveirasilveira/50-anos-dos-20/