Em reunião com lideranças do governo e da oposição, o ministro Paulo Guedes se referiu a colegas de ministério como “burros” e “incompetentes”. O principal alvo do titular da pasta da Economia foi Marcos Pontes, ministro de Ciência e Tecnologia. As informações foram divulgadas nesta quarta-feira 27 pela Folha de S. Paulo. Segundo a reportagem, Guedes revelou que se pergunta, às vezes, o que ele mesmo está fazendo no governo de Jair Messias.

A pergunta do “gênio” liberal é retórica, apenas. O governo Bolsonaro é tão fora da curva, uma bagaceira de proporções inéditas, que nada faz sentido e tudo pode acontecer – por mais inacreditável que pareça. Pontes, o ministro trucidado por Guedes, é sem dúvida um dos representantes máximos do atual desgoverno. 

O requisito essencial que levou Marcos Pontes ao posto de mandachuva da Ciência e Tecnologia foi um voo espacial. Ele é nosso “astronauta” desde 2006, quando pegou carona numa nave russa para constatar de perto (no caso, de muito longe) que a Terra é mesmo redonda. Ainda assim, ele não convenceu muitos de seus colegas de seita bolsonarista – quase todos seguem terraplanistas.

Mas burro, como acusa Paulo Guedes, o colega não é. Pelo contrário. Após dar um passeio entre as estrelas, ele largou a vida militar na Aeronáutica, muito jovem ainda, para fazer fortuna com a venda de palestras e balangandãs. Um dos objetos mais vendidos pelo agora ministro é um bonequinho feito à sua própria semelhança, fantasiado de astronauta. Ou seja, nessa aventura bem acima das nuvens, para contemplar o infinito, o único a se dar bem foi Marcos Pontes. 

Ocorre que ele é praticamente inofensivo, ou quase. Está mais para um abestalhado que ninguém leva a sério. O próprio Bolsonaro andou fazendo piada com seu ministro quando soube que ele ensaiava uma reclamação por corte de verba na pasta. Por isso mesmo, o astronauta representa bem esse aspecto do governo – a dimensão da ampla incompetência para o trabalho.

Existem os ministros “burros”, como denuncia o homem da Economia, é verdade. Juntam-se a esses os ministros delinquentes, picaretas e corruptos. No começo dessa tragédia, havia a crendice quanto a uma “ala técnica” e a uma “ala ideológica”. Tudo firula de jornalismo preguiçoso e diversionismo com propósito. Violência, picaretagem, corrupção. No governo Bolsonaro, não tem escapatória: é tudo bandido – nas suas variadas escalas e modulações.