Carneiros é uma cidadezinha bem distante do sertão alagoano, com seus traçados de ruas, bem limpos, bonitos e cheio de árvores, diferentemente do Quilombo Lagoa do Algodão.
A Comunidade Remanescente Quilombola Lagoa do Algodão, certificada pela Fundação Cultural Palmares, portaria nº 162, de 21 de dezembro de 2010, fica cerca de muitos e seculares kms distantes da zona urbana da bem administrada cidade de Carneiros.
Para chegar até lá, a gente passa por paisagens desérticas de arborização, e aí (pelo-amor-de-Deus!) a quentura do clima pega fogo.
No Quilombo Lagoa do Algodão é frequente a deslocação forçada de pessoas (geralmente vão para São Paulo, em busca de emprego) e todas as consequências resultantes desse processo de “imigração” para uma grande capital.
O sol que bate na comunidade é muito, muito escaldante, e o vento parado, contribui para o sufocamento, a falta de ar. O calor é tão massacrante que faz a gente passar mal.
-“Ah! Se hoje está assim, ontem foi bem pior. Não tinha um cantinho para a gente se esconder”- dizem as mulheres mais velhas, com um sorriso morno nos lábios e um tanto resignadas com a desdita de não ter direitos à dignidade de vida.
As mulheres do Quilombo do Algodão, riem com os olhos,( alguns míopes, de tanto querer enxergar horizontes) apontando para as nuvens, que contam histórias antigas da acentuada invisibilidade das políticas públicas de Estado.
Arrogante, o racismo estrutural e colonizador se assenta nos quilombos do mundo todo, permissionário, requisitando para si a posse do território. Como se os quilombos tivessem donos…
Constitucionalmente, quilombos são territórios livres, (ou alguém diz ao contrário?). Quilombolas valem bem mais do que “arroubas’.
-“O homem cobra vinte contos pra levar a gente daqui pra cidade , é isso, ou andar uma hora para ir e outra para voltar, embaixo desse sol quente"- confessa outra quilombola, desconversando das dores recorrentes.
No Quilombo Lagoa do Algodão, que fica nos cafundós de um mundo distante, no meio da poeira, das palhas de cana-de-açúcar secas e do calor infernal ,mal dá para enxergar a imensidão de possibilidades...
Falta emprego. Falta perspectivas, mas, a coragem sobra nessas mulheres quilombolas, que apesar, do oco, dos vazios cotidianos arregaçam as mangas e insistem na caminhada de arrebentar correntes todo-dia, o dia-todo..
_ “Não quero que meus filhos e meus netos passem pelo sofrimento que passei e ainda vivo. Quero que eles não sejam mais escravos dessa falta de empregos”- fala uma mais velha.
Tem umas horas, na vida do povo, que até os sonhos vão se indo, por entre estradas que levantam uma constante poeira opressora, borrando a direção dos caminhos , mas, como África é ancestral , há no território do quilombo alagoano, lideranças jovens que ousam sair do lugar comum , da não existência, no articular um novo mapa de possibilidades...
E para fortalecer as mais novas lideranças desse território, ainda desconhecido, precisamos das muitas mãos, d@s tant@s, muit@s , outr@s companheir@s da luta quilombola, espalhadas pelos 4 cantos do Brasil.
Aquilombemos com o Quilombo Lagoa do Algodão, que fica nas Alagoas de Aqualtune, Palmares e Ganga Zumba.
Aquilombemos!
Eu ouvi, PRESENTE?