O clima de oposição entre o prefeito de Maceió, João Henrique Caldas, o JHC (PSB), e o governador Renan Filho (MDB) pode ter sido um dos motivadores da postagem do chefe do Executivo municipal, no dia de hoje, alfinetando o emedebista por conta do reajuste nas tarifas dos serviços de água e esgoto em Maceió e na região Metropolitana, que abrange nove cidades, além da capital.

O aumento foi de 8,085% e vale a partir de 1º de outubro.

O reajuste foi publicado no Diário Oficial do Estado, na segunda-feira passada. Com isso, a primeira faixa de consumo será de aproximadamente R$ 4.

Diante disso, João Henrique Caldas foi para o twitter (ambiente amado pelo prefeito) para criticar especificamente o governador Renan Filho (MDB). “Que absurdo governador Renan Filho! Em plena pandemia, momento difícil para a população, seu governo anuncia aumento na conta de água em mais de 8%. É isso mesmo?”.

JHC avaliou a decisão do governo como “descaso com a população de Maceió, em especial com os mais pobres que lutam para pagar as contas”. O prefeito da capital ainda pede que o governador “reconsidere a decisão”.

A crítica é cabível. JHC tem razão em relação ao peso no bolso do contribuinte nesse momento, haja vista o reajuste de outras contas também, como energia, gás, etc. Muito disso tem o impacto do desarranjo na economia. Um dos fatores é a pandemia e as medidas restritivas, a inflação em alta etc.

Todavia, passa também pela decisão governamental. É justo que se cobre detalhes de quem decide, como fez JHC. Afinal, a Agência Reguladora dos Serviços Públicos de Alagoas (ARSAL) é órgão do governo.

Mas, o prefeito ainda vai além e utiliza o mote para fazer comparações entre sua gestão e a do governador: “Aqui na Prefeitura a gente cuida de quem mais precisa. Reduzimos a tarifa de ônibus da capital, e criamos o BEM, para ajudar nesse momento difícil. É hora de cuidar das pessoas”.

Independente do mérito, pela forma como é construída o texto, é claro que há muito de palanque nas postagens. Entra em cena a rivalidade política que apimenta e permite a JHC aproveitar a oportunidade.

Não que Renan Filho não mereça críticas em relação ao seu governo, claros leitores. Claro que merece, pois para isso há motivos.

O caso envolvendo a Secretaria Estadual de Saúde, por exemplo, com graves denúncias feitas pelo deputado estadual Davi Maia (Democratas) é um desses motivos. Maia vem denunciando plantões fantasmas, funcionários tendo benefícios por questões políticas, ambulâncias paradas, dentre outros assuntos sobre os quais o governador simplesmente silencia.

As tentativas de explicações em relação as esses escândalos, que tem dominado o debate na Assembleia Legislativa do Estado de Alagoas, surgem apenas por parte do secretário estadual de Saúde, Alexandre Ayres, que até anunciou medidas para apurar possíveis irregularidades na pasta. Porém, as explicações governamentais são sempre muito tímidas em relação ao assunto que é, repito, gravíssimo.

Portanto, eu só chamo atenção para a existência de componentes políticos na posição do prefeito. Fossem aliados, apostem que não haveria posição tão incisiva.

Porém, se na gestão de Renan Filho há problemas, na de JHC também.

O prefeito, que é falante nas redes sociais, também gosta de adotar o silêncio cômodo em questões polêmicas que exigem dele explicações aos maceioenses, como foi no caso da demissão do ex-secretário de Turismo, Ricardinho Santa Ritta. O prefeito de Maceió fugiu da bola dividida. JHC não defendeu o secretário que foi um dos grandes apoiadores de sua campanha nem repudiou a fala dele (lembram da polêmica?). E olhe que ele foi cobrado bastante nas redes sociais.

A gestão de JHC também tem enfrentado problemas para abastecer as unidades de Saúde com medicamentos básicos (e isso já foi objeto de discussão na Câmara Municipal de Maceió) e insumos. Por exemplo, em uma das unidades, as macas para exames estavam sendo forradas com papel de presente. Resolver tais problemas também seria cuidar bem da população, “de quem mais precisa”, prefeito. Ou seja: fazer o que o senhor cobra do governador.

A buraqueira na cidade também tem chamado atenção dos opositores e a Prefeitura já fez questão de colocar a culpa na Casal.

Todavia, para ser justo, reconheço que há ações de JHC que são muito positivas no campo social, como é o caso do BEM citado por ele mesmo. Mas, também para ser justo, Renan Filho tem ações nesse campo, como o CRIA, que também tem reflexo positivo.

Enfim, há o que cobrar em ambas as gestões dos dois políticos jovens que amam – quando estrategicamente interessante aos dois, do ponto de vista do marketing e dos recados políticos – falar nas redes sociais. Assim como também há pontos que merecem elogios e reconhecimento. Nem tudo é tão maniqueísta assim como faz crer o jogo político.

Se brincar, caros leitores, corre o risco de, caso essas alfinetadas prossigam e o governador também queira entrar no jogo de criar um cenário em que os dois se critiquem mutuamente dentro de uma troca de farpas virtuais, tanto JHC quanto Renan Filho acabarem tendo razão naquilo que um passe a falar do outro. Duvidam? É só escolher o calo certo!

Quanto a tarifa de água e esgoto, leio na imprensa que a Agência Reguladora de Serviços Públicos de Alagoas (ARSAL) informou ainda que a atualização do valor foi necessária por conta da recomposição das perdas inflacionárias dos últimos 12 meses.

Em todo caso, JHC tem razão quando diz que é um peso a mais no bolso do trabalhador. Que ele tem razão nisso, ele tem. Eu só não sei se tem razão pelos motivos mais nobres ou se porque também enxerga no tempo presente o futuro vindouro, que no caso é 2022. Se assim for, é claro que, politicamente, ninguém perde oportunidades…