Atualizada dia 17.08, às 16h30

 

O desespero de cidadãos afegãos nos aeroportos, pendurados em aviões para tentar fugir do país depois que o Talibã voltou a tomar o poder, após 20 anos, na capital Cabul, neste domingo (15), dá mostras do que a população espera do grupo extremista, cujas mulheres sempre foram as principais vítimas.

Alguns políticos locais se posicionaram, em entrevista ao blog ou nas redes sociais, sobre os retrocessos já esperados em relação aos direitos das mulheres afegãs - praticamente nulos durante o período em que o grupo terrorista comandou o país, entre o final da década de 90 e 2001, quando eram impedidas de estudar, trabalhar e até mesmo sair de casa desacompanhadas.

“Sou uma defensora da liberdade e considero que a tomada do poder pelo grupo fundamentalista Talibã, no Afeganistão, pode significar um retrocesso enorme para as mulheres, que ao longo dos anos haviam conquistado alguns avanços em seus direitos na região do Oriente Médio”, disse a deputada estadual Cibele Moura (PSDB), em entrevista ao blog.

“Da última vez que o mesmo grupo governou o país asiático, de 1996 a 2001, as mulheres não podiam trabalhar, e nem mesmo eram permitidas a sair de casa sem cobrir o rosto ou desacompanhadas por parentes homens. Assim, com a retirada do grupo extremista do poder, em 2001, o que parecia impossível para elas, tornou-se realidade. Alguns pequenos avanços puderam ser notados, como meninas sendo permitidas nas escolas e mulheres ocupando espaços de poder no Parlamento, em setores do governo e de empresas”, prosseguiu a parlamentar. 

Cibele Moura disse esperar que as conquistas que as mulheres no mundo todo lutam para ampliar na defesa da igualdade de gênero se mantenham entre as afegãs: “Que o grupo fundamentalista não consiga impor retrocesso e que os direitos e liberdades das mulheres sejam assegurados; que possam trabalhar, estudar e viver, expressando livremente suas ideias e convicções”, concluiu.

A vereadora Olívia Tenório (MDB), de Maceió, usou o Twitter para comentar as cenas de terror que circulam na internet e o desespero das pessoas tentando deixar o país. “A situação no Afeganistão é dramática. O avanço do Talibã culminou na conquista de Cabul e na tomada do poder, mulheres se veem obrigadas a abandonar suas casas por temerem assassinatos, estupros e casamentos forçados”, lamentou. 

 

Também vereadora por Maceió, Teca Nelma (PSDB) reforçou, no Twitter, que o Talibã representa violência e um grande retrocesso nos direitos humanos, principalmente em relação às conquistas das mulheres daquele país: “O retorno das agressões e apagamentos impostos a essas mulheres é amedrontador é inadmissível. Que o extremismo não vença!”.

Já o vereador Leonardo Dias (PSD) foi um dois primeiros políticos locais a falar sobre o assunto, ainda no domingo. 

Em suas redes sociais, entre outras postagens ele questionou o silêncio de entidades como ONU e OTAN: “Avião americano é interceptado por afegãos desesperados para deixarem seu país após a tomada de poder pelo Talibã. E agora? A ONU se calará? A OTAN ainda existe?”, escreveu no Twitter, compartilhando alguns dos vídeos que chocaram o mundo. 

Mais repúdio

Nesta terça-feira (17), outras autoridades locais também se posicionaram. “É de uma tristeza imensa reviver um passado cruel, como o que as mulheres afegãs revivem nesse momento”, disse a deputada federal Tereza Nelma (PSDB), no Twitter,  frisando ser impossível sequer imaginar o pânico vivido por elas.

“Se a gente pensar que, de 1996 a 2001, quando o Talibã estava no poder, as mulheres não tinham acesso ao sistema de saúde, não tinham permissão para trabalhar ou estudar e só podiam sair de casa acompanhadas por um homem, teremos a dimensão real do que significa essa tomada de poder para as mulheres. Poderiam ser apedrejadas até a morte, se violassem essas regras”, prosseguiu a deputada.

Tereza Nelma lembrou que, embora os avanços não tenham sido muitos, diante da opressão que as afegãs viviam, eles foram bastante significativos, com 19 milhões de mulheres ingressando no mercado de trabalho e 27% estavam nos parlamentos deste ano. 

“As cenas que estamos assistindo são aterrorizantes, mulheres sendo retiradas dos seus locais de trabalho, fotos delas sendo apagadas dos painéis das lojas, definitivamente, cenas de horror, que nos entristecem demais. Tudo isso reflete os males da intolerância, do extremismo e do ódio. Precisamos nesse momento de união entre os países, precisamos prestar apoio e solidariedade ao povo do Afeganistão, precisamos nos solidarizar e acolher essas pessoas”, concluiu. 

“Estado Zero”

Ao falar sobre a tomada do poder pelo Talibã, o secretário de estado de Infraestrutura e ex-deputado federal Maurício Quintella usou suas redes sociais para indicar a série “Estado zero”, exibida na Netflix. 

“Ela capta o desespero de milhões de famílias refugiadas pelo mundo, fugindo de guerras e perseguições. Baseada em fatos reais, retrata a política de imigração da ‘democracia’ australiana, bruta, dissimulada e covarde”, escreveu.

Já o deputado federal Pedro Vilela criticou a forma descoordenada como se dá a desocupação do Afeganistão pelos EUA, sob o comando do presidente Joe Biden que, segundo ele, “resulta no literal abandono de um país à própria sorte e na sujeição do seu povo, em especial mulheres e crianças, a um regime absolutamente cruel e desumano como o Talibã. Lamentável”. 

A vereadora Teca Nelma reforçou que o Talibã representa violência e um grande retrocesso nos direitos humanos, principalmente em relação às conquistas das mulheres daquele país: “O retorno das agressões e apagamentos impostos a essas mulheres é amedrontador é inadmissível. Que o extremismo não vença!”. 

Horrores daqui

No Instagram, a ex-senadora Heloísa Helena (Rede) destacou que “sempre devemos lembrar, por honestidade intelectual, que, em nome de muitas religiões e também em desprezo a muitas delas, já foram cometidas as mais diversas e horrendas atrocidades. Não foi apenas com o Alcorão nas mãos e seria desonestidade intelectual fazê-lo! Não consta nos livros sagrados, de nenhuma religião, a autorização da prática repugnante de pedofilia ou a exploração financeira de fiéis ou bombas explodindo inocentes ou a vergonhosa mutilação feminina, e muitas outras e outras e outras horrendas práticas, em nome da manipulação religiosa, da exploração financeira e/ou do fanatismo político”.

HH lembrou ainda que a barbárie vista pelo mundo no Afeganistão também está aqui, 
onde “meninas e mulheres são estupradas, humilhadas, assassinadas e impedidas de sonhar com futuro digno, pois vítimas da mutilação cotidiana imposta pela injustiça social. Devemos nos assombrar e lutar contra os horrores do mundo de lá, mas sem naturalizar, banalizar e suportar pacientemente os repugnantes horrores cotidianos daqui”.