A promotora de justiça, em Alagoas, Alexandra Beurlen escreve:
Quantos deles senti que poderiam ser os meus?
Perdidos, sozinhos, assustados, com fome, frio, sede, solidão...
Será que não são mesmo?
Pensando bem... I., M. e R. foram os que mais me marcaram nessa busca por sei lá o que!
Nas ruas, os três, que nunca se viram, estão desde os seis. Alternaram idas e vindas aos abrigos, unidades de internação para adolescentes e prisões.
Hoje são maiores, mas prefiro seguir apenas com as iniciais.
Possuem histórias tão parecidas que mais parece roteiro de cinema sobre gêmeos separados na maternidade e entregues pra adoção por famílias diferentes.
Eles nunca foram adotados. Nunca receberam os talismãs idênticos de uma mãe que torcia pelo reencontro.
Só quem tem certeza de que a mãe morreu é M. Morreu atropelada. Era surda em razão da desnutrição.
Os três tiveram, por um tempo, a mesma família: a rua. "É a melhor família", diziam.
Perderam a conta de quanto pegaram dos outros pra comer, beber, viajar, sonhar e sorrir, de vez em quando. Matar nunca mataram!
Um virou mulher. Seu nome antigo já não lhe cabia mesmo fazia tempo. Segue sendo M.
I. foi o único que já tentou se matar diversas vezes. Sempre quando está preso. Nunca lhe garantiram esse direito.
R. sempre foi agressivo e se vira melhor no presídio. Dos três, o mais sofrido, o mais forte.
Acompanho de longe, pois não são meus. Mas são, de algum jeito.
Melhor não pensar muito!
Sobre viver.