Há tempos escrevi, aqui nesse blog, os diversos interesses políticos na fomentação do nome da deputada estadual Jó Pereira (MDB) como uma possível candidata ao governo do Estado de Alagoas.

No contexto em que surge o nome de Pereira, ele tanto é impulsionado por quem torce por uma candidatura da parlamentar como por aqueles que querem criar uma confusão no cenário, “queimando” – como se diz no popular – o nome de Pereira logo na largada. Ou utilizando de seu nome para alimentar confusões na Assembleia Legislativa para desestabilizar o presidente da Casa, Marcelo Vitor (Solidariedade).

Expliquei isso em um longo texto que se encontra no blog, caso leitor deseje maiores detalhes do porquê dessa desestabilização poder acontecer.

O fato é que uma candidatura de Jó Pereira ao Executivo não depende apenas dela, obviamente. É algo que envolve o grupo político ao qual ela pertence, que é o “dos Pereira” (com bom trânsito entre emedebistas e Progressistas), depende de partido político (dificilmente seria pelo MDB, onde Jó Pereira se encontra hoje) e da correlação de forças para a composição de um cenário.

No atual contexto, portanto, algo ainda distante. Todavia, na política, nada é impossível. Logo, a parlamentar – diante da ausência de lideranças políticas que tenham condições sólidas para disputar o Executivo em 2022 – pode se ver diante do conjunto de circunstâncias que lhe permitam chegar à majoritária, seja encabeçando a chapa, seja como vice de algum candidato ou ainda disputando o Senado. Vai saber…

Quanto mais o nome de Pereira repercute, mas ela se torna um “coringa político” para uma composição, dando inclusive discurso para uma chapa, seja por ser mulher, pelas bandeiras progressistas (esses penduricalhos vermelho-ideológicos ainda estão moda, fazer o quê?), seja por trazer um grupo político inteiro com ela, enfim...

O que se pode presumir da mais recente entrevista concedida por Jó Pereira ao radialista Alves Correia, em Arapiraca, é que a parlamentar está muito atenta no cenário e sabe que sua trajetória aponta para o crescimento político. Sendo assim, consciente de si e que, no lugar em que ela estiver, será dona do próprio nariz e teria independência. É um mérito que já acompanha a deputada na Assembleia. Que o diga o governador Renan Filho nas duras críticas que já sofreu da parlamentar do mesmo partido...

Diante disso, Jó Pereira – ao ser indagada sobre a possibilidade de uma candidatura majoritária – adota o discurso óbvio: a cautela. Só um detalhe, caro leitor: políticos vendem cautelas aos holofotes para não sofrerem as consequências públicas do que pode estar sendo costurado em bastidores. Jó Pereira é política e está tendo a sensibilidade ímpar necessária para se posicionar no cenário.

A deputada estadual, que em tempos passados classificou o governador Renan Filho como um “líder solitário” que não permitiu o nascimento de lideranças para a sucessão, reconheceu o vácuo de lideranças e, por essa razão, compreende muito bem a razão pela qual os nomes estão sendo jogados no xadrez político. Tudo passa a ser testagem ou “queimação de filme”. Jó Pereira está sabendo ser cirúrgica. Por isso, ao falar com Correia, diz que “não se deve confundir o período legislativo com o período eleitoral”.

Ora, Jó Pereira sabe que esses períodos sempre se confundiram, que as discussões já existem e que ela – querendo ou não – já faz parte dessas. Logo, é uma mera declaração para cumprir tabela e que não reproduz a realidade. A fala concedida nada mais é do que o típico roteiro para não alimentar especulações.

Não por acaso, na sequência da entrevista, Jó Pereira afirma: “quando a gente fala do cargo do governo do Estado, ninguém é candidato de si mesmo. Todas as pessoas precisam entender que há composições políticas, você precisa de um partido que apoia sua candidatura, de um grupo político, o desejo das pessoas de ter o nome de alguém ventilado dentro da composição…”. Traduzindo Jó Pereira, é como se ela dissesse: “não é o momento dessa discussão pública, mas eu não descarto possibilidades a depender das circunstâncias, pois ninguém é candidato de si”.

Óbvio! Ninguém descarta cavalo selado. Agora, não pode ser a própria Jó Pereira a se antecipar e tentar selar o cavalo, quando ainda não se avista claramente a posição do equino e dos demais que pegarão carona na cavalgada… Está corretíssima a deputada, ainda mais quando ela mesmo sabe a qualidade dos demais jóqueis que a cerca.

A parlamentar segue: “Eu continuo trabalhando por Alagoas como deputada estadual. Eu fico alegre de ter o trabalho reconhecido. Nós temos uma missão e essa missão vai comigo, seja como deputada estadual ou qualquer outro cargo, dentro de qualquer composição política e eleitoral”. Entenderam? Não houvesse a possibilidade, a resposta seria clara ao afirmar que é candidata à reeleição. Jó Pereira prefere dizer que “eleição é no ano que vem”.

Por fim, levanto um ponto interessante.

O radialista Alves Correia lembrou a Jó Pereira que nunca houve uma mulher governando o Estado. Por ato falho ou não, a deputada estadual reforçou essa informação dada por Correia e frisou essa informação como sendo uma das “condições” que poderia ou não viabilizar uma candidatura. Ato falho? Freud explica? A candidatura não depende de Jó Pereira apenas, evidentemente. Porém, a parlamentar se mostra confortável para qualquer missão caso haja grupo, composição e concordâncias de fatores.