Individualismo? Egoísmo? Ausência de grandeza? Esperteza? Ou simplesmente falta de humildade para construir um sucessor?
Talvez encantamento pelo poder o ato de não querer entregar pra ninguém; ou nenhuma das opções acima.
Mas o fato está registrado na história política de Alagoas.
É a maldição do vice que, ao alcançar o cargo, é desprestigiado ou deixado de lado pelo titular, governador ou prefeito Maceió.
Sem irmos muito longe, o vice de Divaldo Suruagy, José Tavares, assumiu o governo em 1986 quando o titular renunciou para disputar uma cadeira no Senado Federal.
A expectativa na época era que Suruagy apoiasse Tavares na corrida pelo governo, o que não ocorreu. Ele optou pela candidatura de Guilherme Palmeira. José Tavares, por sua vez, ajudou o candidato da oposição Fernando Collor, que acabou vitorioso.
A questão do vice também ocorreu em vários momentos com Ronaldo Lessa, atual vice-prefeito de Maceió. No seu segundo mandato como governador deixou o cargo em 2006 para brigar pelo Senado e não cedeu as pressões de aliados para lançar ao governo seu vice Luís Abílio.
O candidato que apoiou venceu, mas logo que assumiu Teotonio Vilela se tornou adversário e crítico ferrenho do governo anterior. E na disputa pelo Senado Lessa foi derotado por Collor.
Antes, como prefeito da capital alagoana, de 1993 a 1997, Ronaldo Lessa tinha como vice Heloísa Helena. Na disputa seguinte optou por apoiar Kátia Born. A decisão não teve grandes consequências. Kátia foi eleita e HH aceitou concorrer ao Senado na eleição majoritária ao lado de Lessa que disputou o governo, em 1998.
Quanto a Teotonio Vilela, na sua reeleição, em 2010, o seu vice foi José Thomaz Nonô. Também em momento algum tentou fazer de Nonô o seu sucessor. Tanto que em 2014, por tudo o que não fez e deixou de fazer, por ação e omissão, suas atitudes foram cruciais para a vitória de Renan Filho.
E para concluir, o ex-prefeito Cícero Almeida também (2005-2012) jamais escolheu construir alguém do seu grupo para sucedê-lo, mesmo tendo a sua administração muitíssimao bem avaliada.
Nomes fortes com sua vice Lourdinha Lyra, ou o secretário Mozart Amaral, jamais receberam atenção nesse sentido. Escolheu apoiar alguém fora do seu grupo, Ronaldo Lessa, derrotado no primeiro turno por Rui Palmeira.
Já Rui, no seu segundo mandato abraçou o candidato indicado pelo seu ex-adversário, o governador Renan Filho. Alfredo Gaspar terminou derrotado pelo deputado federal JHC.
E agora JHC, caso opte por disputar o governo de Alagoas em 2022, terá que confiar em Ronaldo Lessa, personagem influente nos acontecimentos citados acima.
Será que o prefeito vai confiar?
Ou a 'maldição' do vice vai permanecer interferindo decisivamente na política alagoana?
EM TEMPO - O ex-governador Geraldo Bulhões (1991-1995) não foi citado nesse breve levantamento. É que o seu vice, Francisco Roberto de Holanda Melo, morreu no dia 6 de abril de 1992, aos 61 anos.
Assim como também não foi citado o ex-governador Manuel Gomes de Barros. Ele foi vice de Divaldo Suruagy de 1995 a 17 de julho de 1997. Assumiu a chefia do Executivo com o afastamento do titular. Disputou e perdeu, em 1998, o governo para Ronaldo Lessa.