Diante da ausência de lideranças políticas em Alagoas no cenário da disputa pelo governo do Estado de Alagoas em 2022, é natural que diversos nomes surjam no xadrez político como a possibilidade de unificação de grupos para a sustentação de uma candidatura. Desta forma, é absolutamente natural – que se frise! - que o nome da deputada estadual Jó Pereira (MDB) apareça como uma possibilidade de ser candidata ao Executivo estadual.

Porém, valem algumas reflexões diante das matérias jornalísticas e notas que falam da candidatura de Pereira. Primeiro: o nome de Jó Pereira representa uma decisão de “bloco”: o dos Pereiras.

A decisão dela, caso ocorra, não se dará de forma isolada. Sendo assim, há de se cumprir alguns requisitos que envolvem a independência que a parlamentar conquistou na Assembleia Legislativa (aposto que ela não abriria mão disso, pois é sua trajetória política e marca do mandato) e acomodação de forças, pois os Pereiras sempre tiveram a habilidade política de transitar entre o calheirismo e os Progressistas (o partido, diga-se de passagem).

Não por acaso, dos Pereiras, a única que tem uma posição mais “afoita” (para não usar outro termo) nas críticas severas ao governador Renan Filho é a própria deputada estadual, chegando a cravar que Renan Filho era um “líder solitário”. Isso sem contar com as denúncias que envolvem o Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza (Fecoep), os desvios de finalidade de recursos, a questão da entrega das cestas básicas, dentre outras posições que caracterizaram Jó Pereira muito mais como uma opositora do que uma subserviente ao calheirismo imperante no MDB.

A deputada estadual tem personalidade. É possível concordar ou não com ela. Eu, particularmente, discordo em um monte de pautas pelo excesso de “vermelhismo ideológico” em suas pautas progressistas (dessa vez não é o partido).

Jó Pereira é uma candidata viável ao governo do Estado? Sim. Todavia, ninguém é candidato de si mesmo. Então, se há fomentos a uma candidatura dela ao Executivo nesse momento, as conversas de bastidores só podem ter duas fontes originárias: 1) o próprio grupo dos Pereiras que a colocaria no xadrez político para – no mínimo – ter espaços em uma majoritária que vem sendo trabalhada. Como a relação do bloco é boa tanto com o MDB quanto com o deputado federal e presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, então há espaço…; 2) a conversa surgir do Palácio República dos Palmares como forma de “queimar” a parlamentar e ainda colocar em xeque a união da Assembleia Legislativa, tirando o protagonismo do deputado estadual Marcelo Vitor (Solidariedade).

A segunda hipótese é uma cortina de fumaça, pois até então toda possibilidade de candidatura de um deputado estadual passa pelo grupo liderado por Marcelo Vitor, como ocorre quando cogitado o nome de Davi Davino Filho (Progressistas). Não por acaso, uma das notas na imprensa afirma que Jó Pereira poderia ser o nome a unir um acordo entre Arthur Lira e Renan Filho. Pela personalidade de Jó Pereira, isso seria uma contradição com o mandato que desempenhou. Não descarto a possibilidade dela ser candidata, mas duvido uma candidatura de Jó Pereira sem que o protagonismo fosse dela.

E por qual razão seria uma cortina de fumaça? Não creio que Jó Pereira seja o nome do MDB ao governo. Então, temos um balão de ensaio, um termômetro, uma informação jogada para ver o que acontece. Resta saber a origem…

Por enquanto, tudo segue como antes. De um lado, Marcelo Vitor encantado com a possibilidade de ser um dos grandes articuladores do processo diante do peso da Assembleia Legislativa e a forma como conduz o grupo. Do outro, o governador Renan Filho pensando o seu futuro político e, encastelado, sem construir um sucessor de forma natural.

Além disso, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, que é uma força decisiva para a composição de um bloco político; o senador Rodrigo Cunha (PSDB) que pode querer disputar, mas é assombrado pela possibilidade do prefeito João Henrique Caldas, o JHC (PSB), ser mordido pela mosca azul e se candidatar, rachando a aliança entre os dois.

O grupo do qual Jó Pereira faz parte tem força e pode sim negociar espaços nessas articulações, mas não faria isso diante dos holofotes e a própria deputada estadual não se lançaria de forma tão afoita com tantas possibilidades de caminhos abertos para ela, incluindo aí a reeleição, a candidatura à Câmara dos Deputados etc.