Quitéria é uma mulher preta, idosa. Segundo ela,  tem mais de 60 anos e faz 10,ou mais tempos de anos, que vive nas ruas.

É uma mulher quem tem discurso coerente, robusto, mas, o corpo está em declínio, tragado pelo álcool.

Quitéria é dependente química. A cachaça é sua companheira diária.

-Mas, eu não uso drogas. Não fumo maconha, nem cheiro cocaína. É só cachaça, mesmo - fala na defensiva, crédula, que a bebida etílica não faz parte da categorização no quesito drogas.

Quitéria é uma mulher preta, atravessada pela solidão das ruas. Uma massa encharcada e indiferente aos olhos do poder público.

É uma mulher preta invisível. O estado não a vê, como também os movimentos sociais.

Faz tempo que desistiram de Quitéria.

Dia destes perguntei se não gostaria de morar em um abrigo público, asseverou que não, dizendo que para morar em um abrigo teria que abandonar o vício e ela não quer fazer isso, pois, a cachaça é sua única amiga.

Quitéria é uma preta idosa subestimada pelo sistema claustrofóbico, que  a massacra, com uma ferocidade medonha,  silenciosa e arranca-lhe a dignidade de ter direitos, pela garganta.

Dia destes, Quitéria estava tomando banho, nua em pelo, na lagoa, em uma manhã esplendorosa de sol, sob os olhos zombeteiros dos passantes.

A preta idosa, moradora de rua que tem nome de uma combatente baiana da Guerra da Independência do Brasil, não tem direito a privacidade ou dignidade. 

E, finda as comemorações do julho das pretas…

Salve, Quitéria!