A exploração de minério de cobre na região do Agreste alagoano é um negócio muito promissor para a empresa Mineradora Vale Verde (MVV). Somente da jazida localizada no município de Craíbas, a mineradora estima retirar, durante 14 anos, quatro milhões de toneladas de material. Feito todo o processamento, a mineradora terá 50 mil toneladas de concentrado de cobre de altíssima qualidade, minério cuja cotação recente no mercado internacional é de oito mil dólares por tonelada.

A grosso modo, em valores atuais, o investimento resultaria em 400 milhões de dólares ao fim de quase uma década e meia. Com a inclusão da mina descoberta em Igaci – em área próximo do Projeto Serrote, onde a Vale Verde retira e processa a riqueza – o período de atuação da MVV certamente será maior, assim como o lucro, sem falar na possibilidade real de localização de outras jazidas na região onde a atividade industrial já ocorre, em fase de teste do maquinário.

Solo rico, povo pobre

Tanta riqueza no solo e pouco retorno para a população é o que se vê nas ruas de Craíbas. A cidade vizinha de Arapiraca tem cerca de 25 mil habitantes e praticamente quatro mil pessoas inscritas no Bolsa Família, programa de distribuição de renda do governo federal que, a cada mês, repassa pouco mais de um milhão de reais aos beneficiários da cidade assolada pelo desemprego e pela pandemia de Covid, com 1.247 casos confirmados da doença que gerou 24 óbitos, com 12 mortes em processo de investigação até esta terça-feira, 13 de julho, segundo dados do boletim epidemiológico da Sesau Alagoas.

A prometida redenção econômica para Craíbas e agora para Igaci, onde uma nova mina já tem sua exploração autorizada pelo governo estadual, ainda não ocorreu. Ou aconteceu para poucos. É como se os moradores das duas cidades fossem mineradores azarados, do tipo que só encontra ‘ouro de tolo’ em suas explorações mal sucedidas, exatamente o contrário do êxito na empreitada da Vale Verde.

Adquirida em 2018 pelo Grupo Appian Capital, um fundo de investimentos com sede na Inglaterra, a MVV se instalou em Craíbas com a promessa de ser a redenção econômica para a região. O panorama anunciado de absorção de mão de obra local em milhares de empregos diretos para erguer a estrutura grandiosa, além de obras paralelas como aberturas de estradas, construção de instalações e vagas na indústria, é questionável.

Sem emprego e nem desenvolvimento

A estimativa de trabalhar com 70% de pessoal da região, conforme divulgado pela MVV, não corresponde ao que se vê nas ruas de Craíbas. Nem tão pouco se encontra mais dinheiro circulando nas cidades, com todo mundo ganhando a sua parte – seja como empregado ou fornecedor de algum tipo de serviço para a mineradora. A perspectiva de desenvolvimento em áreas públicas, impulsionado por impostos recolhidos da mineradora, é como a poeira nos olhos do povo da região árida em períodos de seca.

A miragem da presença da MVV em Craíbas ganha vida para quem consegue vê, mesmo a uma distância relativa, a imensa estrutura de ferro. A dona de casa Suely Alves da Silva enxerga e sente a presença da Vale Verde, de forma incômoda e prejudicial. Sua casa está com as paredes rachadas e o barulho das explosões atormentam sua vida e de seu marido, o trabalhador rural Wemerson Meneses da Silva.

O casal vive no Povoado Lagoa do Mel, situado a seis quilômetros de Craíbas, às margens da Rodovia AL-486, via de acesso para a AL-115, principal rodovia do Agreste para chegar até as cidades de Arapiraca e Palmeira dos Índios. De sua moradia, ela também acompanha a movimentação de veículos na principal rota de acesso à mineradora, inclusive a temida barragem de rejeitos, distante cerca de 300 metros da casa.

Explosões e parede rachada

Durante contato com a reportagem do Jornal de Arapiraca nesta quarta-feira, 13, Suely Alves mostrou os danos na estrutura do imóvel que começaram a aparecer após as explosões feitas para abertura da mina, operação que ocorre durante o dia e também à noite.

O barulho é intenso, assustador e incomoda a todos, adultos e principalmente crianças. Na semana passada, dois funcionários da Vale Verde estiveram em sua casa para olhar as rachaduras, mas não deram detalhes sobre o posicionamento da empresa, conforme revelou ao Jornal de Arapiraca.

“Eu estou morrendo de medo, aqui dentro, mas não temos para onde ir. Temos que ficar aqui, mas morro de medo de dormir e viver aqui dentro”, disse a dona de casa.

Angustiada com o problema que ameaça sua segurança e de sua família, Suely questiona sobre os empregos abertos pela mineradora, afirmando que já levou seu currículo pessoal seis vezes para análise da empresa, mas até agora nada de resposta, disse ela que não é a única moradora da região que ainda espera por uma oportunidade de trabalho na MVV.

Vidas sob risco

Vale lembrar que a Mineradora Vale Verde ainda responde pelos danos gerados ao meio ambiente e à população provocados por procedimentos irregulares da empresa. O rompimento da barragem de rejeitos em Brumadinho-MG, ocorrido em 25 de janeiro de 2019, foi o maior acidente de trabalho do Brasil. Em perda de vidas humanas, é o segundo maior desastre industrial do século.

Foi um dos maiores desastres ambientais da mineração do país, depois do rompimento da barragem em Mariana-MG. O receio maior é a repetição de situação semelhante, causada por empresa que vai lucrar muito com a nossa riqueza, pagando menos imposto e empregando mão de obra importada.

Atuação da Vale Verde em Alagoas está na pauta do Ministério Público

Ciente dos riscos gerados pela atividade de mineração que desencadeou desastres em Minas Gerais, com perdas de vidas humanas e prejuízos ao meio ambiente, a atuação da Mineradora Vale Verde em Alagoas entra na pauta do Conselho Estadual, por meio do seu Conselho de Procuradores de Justiça.

A informação foi passada ao editor-chefe do Jornal de Arapiraca e colunista do diário Tribuna Independente, Roberto Baía, por Antonio Arecippo de Barros Teixeira Neto, Procurador de Justiça Criminal e membro decano do referido Conselho.

Em carta enviada por e-mail, Antonio Arecippo Neto parabeniza o jornalista Roberto Baía por reportagem sobre o tema publicada na Tribuna Independente, com o título Exploração Insana, texto que aborda o funcionamento da Mineradora Vale Verde.

Em determinado trecho do comunicado, o membro do MP Alagoas escreve a seguinte frase: Já imaginei um dia vivenciando uma nova Brumadinho, revelando seu temor de um desastre semelhante em nosso estado. Em seguida, o procurador informa sua intervenção.

“Como membro do Ministério Público, Decano da Instituição, farei um pronunciamento na próxima sessão do Colégio de Procuradores de Justiça, órgão maior do nosso Ministério Público, analisando o seu comentário onde vossa senhoria expõe sua preocupação com o futuro da população circunvizinhas e a defesa do Meio Ambiente.”