O menino Antônio era espevitado e dono de um estilingue destruidor.
Nascido em 20 de setembro de 1929, no município Matriz de Camaragibe, em Alagoas , ainda muito criança, tinha o sonho de fugir da clausura do roçado.
Dos 5 irmãos era o mais “revolucionário” no reinventar jeitos de fugir das responsabilidades de roçar os hectares que a mãe atribuía a cada filho, na roça.
O menino, aos 8 anos, conseguia fazer com que os irmão acobertassem, que na verdade ,ele saia para caçar poassarinhos, e assim não recebia as surras da mãe.
Sim, Umbelinda Maria da Conceição, uma preta “fula” era braba.
Um dia, a vizinha denunciou que o menino tinha quebrado com seu estilingue um monte de pratos, que ela tinha colocado na caçada para secar ao sol.
A mãe, aborrecidíssima, pendurou Antônio Pedro de cabeça para baixo em uma árvore e deu-lhe uma surra violenta. Só não morreu porque um vizinho chegou a tempo de livrá-lo da ira materna.
O menino cresceu com asas no pensamento. Trazia com ele o aprendizado do voo, da liberdade que anda em calçadas do mundo.
Quando adolescente, aos 17 anos, decidiu pela mudança para capital, Maceió. Não via nenhum encantamento no trabalho árduo do roçado.
Morou com uma parente em Maceió, mas, como seu desejo era ganhar o mundo foi se aventurar em São Paulo e, por lá, iniciou o aprendizado na funilaria e serralharia.
Sujeito metódico e perfeccionista, o jovem, Antônio Pedro, elaborou caminhos, buscando o autoaperfeiçoamento , até chegar a ser reconhecido, popularmente, como mestre no ofício.
De retorno a Maceió, montou sua própria oficina, iniciou um relacionamento com a professora,Alda, casou e teve 10 filhos.
De oficina em oficina, o menino de Matriz, se aprimorava no ofício.
Era um design nato. Desenhava concentrado Iornamentações e produzia modelos de portões de ferro. Como naquela época não tinha noção de patentear os inventos, nunca pode requisitar a autoria dos muitos modelos que desenhou e, que ao longo dos anos foram copiados, em série. Um invento aqui, outra arte ali. Talvez, a ornamentação do portão da sua casa, tenha sido um invento do mestre, mas, quem pode provar?
O mestre era tão referenciado que a administração da antiga Escola Técnica Federal de Alagoas, o convidou para ministrar seus conhecimentos em salas de aula. Declinou o convite, pois, o menino que fugia do roçado, não se permitia ter patrão. Era um empreendedor dos seus próprios negócios.
Em suas oficinas formou inúmeras gerações de meninos, que hoje seguem o ofício.
Foi Antônio Pedro, faz bem uns 40 anos, que com sua veia de artista transformou pedaços de pneu em rolos/pincéis com formatos e texturas , que além da pintura deixavam belos desenhos nas paredes. Hoje é bem fácil encontrar esses rolos/pincéis, bem mais aperfeiçoados, no mercado.
Era algo bem bonito e econômico. De tanto receber elogios ele fez alguns rolos e partilhou a experiência com tantas e muitas pessoas.
Muitas paredes receberam a impressão digital do artista autodidata.
Teve como cliente assíduo e parceiro de conversas, o então governador de Alagoas, Divaldo Suruagy.
Antonio Pedro dos Santos Filho , filho de Antonio Pedro dos Santos foi funileiro e serralheiro e um artista fora de série.
Para afirmar a idoneidade e honestidade repetia, o mesmo refrão ‘Sou negro, mas, não sou moleque” , e asseverava, quase sempre, que : “ a maior herança que a gente tem é o nome.”
Morreu em 20 de fevereiro de 2002.