Aos 6 anos, Arthur sentia desconforto com o próprio corpo.  Diz que “sempre se sentiu menina’. Foi nessa época que teve a primeira paixonite, por outro menino.

Aos 8 anos fazia troca dos brinquedos e chegava em casa com brinquedos “de menina”. A mãe e a avó materna, não entendiam o que ocorria com o menino. As repreensões eram constantes.

Aos 10 anos já não podia mais sufocar o sentimento de inadequação corporal.

Entre os 11 e12 anos se apaixonou por um outro garoto, lamentavelmente, se tornou alvo do irmão do garoto e outros rapazes. Sofreu ameaças de que,  se não cedesse ao abuso sexual, espalhariam ,pela cidade todinha, que Artur era gay.

Não se calou e fez a denúncia dos assediadores.

Aos 17 anos decidiu morar sozinha e iniciou a transição, a partir das roupas e cabelos. Lentamente, foi trabalhando essa nova fase, com a família.

Da infância trouxe ,como bagagem o espírito empreendedor. Desde pequena inventava jeitos de garantir seu próprio dinheiro: arrancava macaxeira da roça, fazia chapéus (com as penas das galinhas) e máscaras para o carnaval, e os vendia.

Dos 15 aos 19 anos começou a estagiar, e depois efetivou-se, como locutora ,em uma rádio, no município de Teotônio Vilela.

Casou ao 20 anos, morou 3 anos e 4 meses, veio a separação. Trabalhava na rádio, das 5 da manhã até próximo as 8 horas. Das 8 às 17 horas trabalhava como balconista, e exercia um terceiro turno como professora de educação artística, da escola Senador Rui Palmeira, em São Miguel dos Campos.

Aos 23 anos casou novamente, uma relação que durou até os 25 anos.

Ela conta que no início assinava o nome nas redes sociais, como Sophia Arthur, para que as pessoas fossem se acostumando.

Trabalhou 9 anos no CAPS de Coruripe e lá fez qualificação   para trabalhar com as especificidades das deficiências.

E no meio dessa construção de caminhos militava pela causa LGBT. É  incentivadora dos   concursos miss gay s e parada gays, em Coruripe e , criadora da 1ª Associação LGBT e candomblé ,Grupo Iguais de Coruripe, em 2020, foi eleita miss trans Teotônio Vilela.

Foi vice-presidente, por duas gestões, do conselho municipal de saúde, palestrante da primeira conferência de saúde da mulher, em Alagoas, 2017.

Preta, influencer digital, yalorixá e professora, Sophia Braz é uma mulher trans, nascida no município de Coruripe, interior de Alagoas e renascida para o mundo todinho.

Uma mulher, que, apesar do universo carregado de complexidades, reinventou-se, a partir de um enfrentamento valente , às muitas dores, aos inúmeros territórios excludentes  das infinitas intolerâncias.

Hoje, do alto do salto agulha 18 cm, e batendo nos peitos, Sophia Braz, com “ph’  diz: Tenho muito orgulho da mulher que me tornei

Salve, Sophia!

Saudações militantes ao 28 de junho, Dia Internacional do Orgulho LGBT.