O ferrolho suíço de 1938 desenvolvido pelo técnico Karl Rappan foi a primeira grande retranca do futebol, tendo sido aperfeiçoado por Helenio Herrera na famosa estratégia Catenaccio, conhecida pelo pragmatismo e por uma solidez defensiva, além do foco no veloz contra-ataque. Essas estratégias futebolísticas, hoje já superadas pelo futebol total, ainda nos fornecem subsídios muito importantes para gestão pública, principalmente quando tratamos da arrumação fiscal e financeira de entes públicos.
O principal ponto é que estas estratégias sempre visaram primeiro evitar tomar gols para depois se preocupar em avançar rápido, produzir e fazer entregas importantes. Assim, estas estratégias são muito aderentes à gestão fiscal pública. É muito difícil tocar um governo, qualquer que seja a esfera, com contas desajustadas sem conseguir planejar ou mesmo desenvolver programas ou investimentos estruturantes.
Para isso, é importante inicialmente identificar os determinantes que levaram à crise financeira de um ente, definir as características e ter um correto dimensionamento da situação. A maioria das pesquisas que estuda por que os entes subnacionais chegam à situação de stress fiscal identificou que ela pode ser explicada em cerca de 30% pela performance da receita e cerca de 70% pelo incremento das despesas, sendo que destas últimas, a despesa com a folha de salários representa quase a totalidade.
A primeira reação dos gestores é fazer cortes de despesas, mas nem sempre é a solução. Algumas pesquisas vincularam o termo crise ao conceito de eficácia organizacional, outros caracterizaram como um ponto de virada positivo ou negativo na organização. A maioria dos estudos a caracterizam como as situações nas quais as autoridades devem equilibrar as receitas com as despesas, podendo aumentar os impostos para manter os níveis de serviço, diminuir as despesas nos anos subsequentes ou combinar as duas opções.
Em 2015, no início da gestão em Alagoas, foi feito um diagnóstico bem claro dos problemas de desestruturação da máquina pública, do déficit estrutural fiscal e de prestação de serviços a população. Analisar dados e indicadores com a devida cautela e fazer uma investigação qualitativa dos problemas. Planejar e colocar em operação diversas reformas e mudanças de gestão, mas também de atitude. Sem ansiedade buscar resultados numa trajetória, e não em voos de galinha. Saber para onde se quer ir é fundamental para construir pontes e projetos, sonhar com o que vem.
Não é fácil comunicar esse conjunto de medidas, até porque muitas mexem com interesses, mudam status quo de dezenas de anos, e falta compreensão, pois acaba-se focando nas duras externalidades de curto prazo não olhando para o horizonte. É preciso ter foco e tranquilidade porque os resultados irão aparecer.
O que se busca e ter recursos disponíveis para fazer investimentos físicos e sociais estruturantes. Afinal, nosso país há muito investe apenas 1% de seu PIB e, se conseguir sair deste marasmo, pode mudar muito a vidas das pessoas gerando condições para diminuir a pobreza e aumentar a empregabilidade das futuras gerações.
Mas uma boa gestão também precisa de sorte e ela aparece sempre para quem trabalha muito e cria as oportunidades. Assim como para um time ser campeão, segundo o dramaturgo tricolor Nelson Rodrigues, “não basta ter uma defesa intransponível, um meio de campo genial e um ataque assassino: é preciso ter sorte”. Sem sorte você é “atropelado por uma carrocinha de chicabon”.
George Santoro