Manhã de quinta-feira, saio apressada para caminhada matinal. Dia de agenda cheia, mesmo dentro de casa. Sol fervendo, em Maceió
Contava os passos e segundos para dar conta das tarefas do dia, até encontrar o Sr. Tonho.
Ele saía de um dos equipamentos do Corredor Vera Arruda, no Stella Mares, em Jatiúca, o dito bairro nobre, ao me ver , comentou: - a gente usa o banheiro e na hora de dar a descarga, não tem água. Depois, o povo vai começar a falar que a gente é porco, sujo.
Engarrafo minha pressa e paro, no meio do caminho, para dar ouvidos à conversa do Sr. Tonho. Ele conta que tem 57 anos e morava no Benedito Bentes, (parte alta da cidade), mas, com a falta de trabalho, não teve mais como pagar o aluguel e pensou: vou ajeitar um lugarzinho para ficar. Com a miséria ancorada em suas costas, a rua é ,agora, o lugar possível para moradia.
-Eu não bebo, não uso drogas, não ando de baderna e o único cigarro que fumo é esse (e abre a jaqueta para mostrar um pacotinho de fumo de rolo). Sou um homem direito, decente.
Ouço o Sr. Tonho com uma gastura n'alma. Ele é dessas gentes, que o poder público, com sua política pública de Instagram, não alcança.
E o homem, que aparenta ter mais idade do que os 57 anos, desfia romaria de tristezas e desencontros amorosos.
Imprenso o tempo entre dedos, pois, sei que a única coisa que ele precisa agora é que alguém o ouça.
Fala que dorme em um bar onde faz serviço de limpeza.
-O dono me ajuda muito, arrumo 10, 15 contos , mas, a maioria das vezes, só quero sair andando, pelo mundo afora, sem muito rumo.
Sr. Tonho traz a alma atropelada pela vida. Não carrega muitos sonhos.
Depois de despejar palavras ansiosas que o engasgavam e aliviar a alma, o homem, quase preto, se foi, embrulhando as dores em caminhos , muitas ruas, sem esquinas.
Sr. Tonho agora mora nas ruas.
E daí, Maceió?