Uma Comissão Parlamentar de Inquérito é geralmente cansativa pra todo mundo. Além disso, o resultado nem sempre corresponde às melhores expectativas. É o contrário. A tradição é de desfechos frustrantes, muito longe dos objetivos incontornáveis de uma CPI. Toda investigação deveria resultar em esclarecimento da verdade, correção de erros e produção de dados que pudessem, no âmbito do Ministério Público, gerar ações na Justiça. Com isso, pode-se chegar a julgamentos e a punições de eventuais culpados por crimes cometidos. Mais ou menos por aí.

Modorrentas na rotina de depoimentos, as CPIs viram notícia na largada e, de um dia para o outro, desaparecem do noticiário. Sem novidade, deixam rapidamente de interessar aos jornalistas, à imprensa de modo geral. A coisa volta a esquentar quando surge algum fato novo, alguma estripulia extraordinária de um depoente, algum acontecimento fora da normalidade. Sem isso, do holofote inicial, a CPI tende a morrer no esquecimento.

Nos últimos anos foram instaladas, entre outras, a CPI da Previdência, a CPI Mista da JBS, a CPI do BNDES e a CPI dos Maus-Tratos contra Animais. Houve ainda a instalação da CPI de Brumadinho, a CPI das Fake News e a CPI do Acidente da Chapecoense. Afora as comissões devidamente criadas, há ainda as propostas que vão a debate, mas acabam no meio do caminho, sem assinaturas suficientes – caso da CPI dos Tribunais Superiores. 

A ideia de criar uma CPI para fuçar a atuação de ministros na cúpula da Justiça tem as digitais de Bolsonaro. Foi uma tentativa de emparedar sobretudo os integrantes do Supremo Tribunal Federal. Não há fato determinado para tal investigação, apenas a intenção de intimidar as instituições e agitar o gado verde e amarelo.

A CPI da Pandemia é diferente. Tem audiência. Todo mundo quer acompanhar. Por isso, numa decisão editorial incomum na cobertura das comissões, as quatro TVs com jornalismo 24 horas transmitem os depoimentos em tempo real. Globonews, Band News, Record News e CNN Brasil mostram ao vivo todos os lances da novela.

Nesta quarta-feira foi a vez do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello falar aos senadores (foto). Como Fábio Wajngarten e Ernesto Araújo, dois sabujos bolsonaristas que já depuseram, foi um festival de evasivas, distorções e mentiras. Mais de uma vez, o general obtuso foi repreendido pelo relator, o senador Renan Calheiros. 

O ex-ministro saiu do depoimento com fama de omisso e mentiroso. Pazuello é o primeiro a depor que terá de ser ouvido em outra sessão. Por conflito de horário com o Senado, a presidência da CPI encerrou os trabalhos, com mais de vinte senadores ainda inscritos pra fazer perguntas. Por isso, o ex-ministro volta nesta quinta-feira.

A essa altura, a CPI é trágica pra Bolsonaro e sua turma. O relator, que sempre abre a maratona de perguntas, tem sido implacável diante dos depoentes. Renan pediu até a prisão de Wajngarten, o que foi negado pelo presidente Omar Aziz. A tropa governista busca desesperadamente uma via pra atingir o relator. Não deu certo até agora.

Caçar governadores e prefeitos de oposição é o foco dos governistas. A gang de bolsonaristas alagoanos busca munição para alimentar a CPI e atingir o governo de Alagoas. Pegar Renan Filho seria o troféu dos sonhos pra Bolsonaro. A ofensiva fracassa. A Comissão apavora mesmo os bandidos do Planalto e seus cúmplices.