A construção de vias exclusivas para atender a segurança dos ciclistas sempre foi uma pauta apresentada pelos movimentos de ciclismo em Maceió. Atualmente, a capital alagoana conta com 40 quilômetros de ciclovias construídos e um Projeto de Lei em tramitação na Câmara de Maceió pode tornar essa implantação em norma municipal.
O Projeto, da vereadora Gaby Ronalsa (DEM) quer tornar obrigatório a realização de estudo para a inclusão de cicloviárias nos projetos de criação, melhorias e ampliação de ruas. O PL foi criado com o apoio de comissão da Associação Alagoana de Ciclismo (AAC) com o intuito de melhorar e garantir a convivência segura de motoristas, motociclistas, ciclistas e pedestres. Os artigos visam garantir acessibilidade, segurança, eficiência e qualidade de vida, além de inclusão social e preservação do meio ambiente.
“Desta forma, estamos contribuindo com a cidade na questão da mobilidade urbana, que é um tema muito importante para as pessoas que vivem aqui. O prefeito JHC deu ordem de serviço das obras de 4 km de ciclovia da Praça Centenário a Durval de Góes Monteiro, próximo à Facima”, lembrou a vereadora.
Para a parlamentar, Gaby Ronalsa, é um projeto que requer a participação de todos os parlamentares. “Precisamos nos unir em prol da cidade de Maceió. Mobilidade urbana é uma preocupação social de valorizar o ciclista tanto para a prática esportiva quanto para o deslocamento do trabalhador. É pensar na sustentabilidade e desafogar o trânsito”, finalizou a vereadora.
O sócio fundador e membro da diretoria da Federação Alagoana de Triathlon (FALTri/AL), Higino Vieira, destaca que considerando uma população de 1,3 milhões de habitantes, seriam necessários cerca de 800 quilômetros de infraestrutura cicloviária para atender a todos.
Maceió tem em construção a ciclovia na Avenida Fernandes Lima, que segue até a Avenida Durval de Góes Monteiro e pretende entregar mais alguns quilômetros da faixa exclusiva para os ciclistas. De acordo com o secretário Nemer Ibrahim a construção dessas faixas especiais já estão inclusas em projetos e destacou a Eco Via Norte.
“Nós vamos ter uma ciclovia que vai ligar a parte alta a parte baixa da cidade por uma ciclovia na Eco Via Norte. Hoje todos os projetos do município já são feitos com a inclusão das ciclovias. Acessibilidade tem sido prioridade na gestão e vamos proceder com esse modelo em todas as nossas obras”, ressaltou Ibrahim.
Segundo Higino Vieira, na gestão passada, há oito anos atrás, não houve crescimento e ampliação de ciclovias ou ciclofaixas em Maceió. Existiu um aumento na venda de equipamentos, bicicletas, peças e suportes. No entanto, esse processo não foi acompanhado por uma política que buscasse, por exemplo, a redução de impostos no produto, o que aumentaria ainda mais a compra de bicicletas e uma maior ocupação nas ruas desse meio de transporte.
Além disso, conta que um outro problema está na quantidade insuficiente de Agentes de Trânsito circulando pela capital de bicicleta, os mais conhecidos como “amarelinhos”, e em poucos lugares, onde normalmente não se utiliza esse meio de transporte. Nesse caso, o papel desses funcionários é fundamental para fiscalizar e orientar o tráfego, quando necessário, principalmente corrigindo motoristas e motociclistas que cometam alguma infração.
Outro aspecto citado está na ausência de um sistema integrado de governo, que pense em políticas públicas de mobilidade. “Quando a gente fala especificamente da Avenida Fernandes Lima, ela é uma luta antiga, mas só surgiu porque foi identificado um recurso pelo Dnit [Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes] de um saldo que poderia ser devolvido”, conta.
Vieira explica que ele e um outro funcionário do Departamento, ao ficarem cientes da verba de cerca de 4.5 milhões, decidiram lutar para que fosse convertida na construção da ciclofaixa na avenida. Assim, foi convocada a Superintendência do Dnit, que provocou o prefeito de Maceió na época, Rui Palmeira e, por fim, houve a intermediação com a Caixa Econômica, pois o recurso era federal.
Havendo a construção da ciclovia na principal avenida da cidade e o desenvolvimento de novas obras, Higino espera que as pessoas entendam que podem sair de casa de bicicleta. Junto a esse movimento, tem expectativa a que sejam criadas mais lojas desse setor espalhadas pela capital, maior acesso a equipamentos com tecnologia avançada e haja um incentivo à capacitação de mecânicos, gerando novas oportunidades de emprego.
“Porque as grandes empresas querem fazer isso. Eu participo de um seminário [...] de uma instituição chamada Aliança. [...] eles foram para dentro do Ministério da Economia brigar pela redução da taxa do imposto de importação que existe em bicicletas. Um outro caminho e indicador fortíssimo é a importação de bicicletas elétricas, que poderão contribuir muito para a questão da mobilidade urbana. Mas como é que você vai andar de bicicleta nessa cidade?”, questiona.
Abordando o incentivo ao uso de bicicleta, Vieira diz que “a gente precisa de uma política dentro da proposta educacional para falar sobre a importância da mobilidade, do uso da bicicleta, do deslocamento”.
Junto a isso, cita o Programa Bicicleta Brasil, do Governo Federal, instituído pela Lei 13.724/2018, que consiste em uma tentativa de melhorar as condições gerais da mobilidade urbana brasileira e tem como objetivo aumentar a construção de ciclovias, marcações de ciclofaixas e faixas compartilhadas (temporárias). Além disso, a proposta também contempla campanhas educativas, implantação de sistemas de aluguel de bicicletas de baixo custo em terminais de transporte e posiciona estrategicamente banheiros, bebedouros e bicicletários.
Outro ponto indicado na relação entre educação e trânsito, estaria na aplicação de fundos municipais para a capacitação e conscientização sobre mobilidade urbana de funcionários da Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito (SMTT), por exemplo, principalmente, voltado para o uso de ciclovias.
“Já imaginou servidores e funcionários que saem de casa e chegam no local de trabalho de bicicleta? A gente precisaria ter, por exemplo, considerando o Centro da cidade, no calçadão da orla, uma nova revitalização com mais estacionamento para bicicleta, mais suportes para bicicletas, um poder de fiscalização muito maior com sistema de monitoramento”, sugere.
E completa, “agora já imaginou, você leva essa tecnologia para escola e cada conjunto habitacional quando for construído tenha um espaço de bicicletário, realmente amplo e um canal de comunicação durante a construção da via de acesso entre esse conjunto com a rodovia, ter também uma ciclovia e ciclofaixa?”.
Higino acredita que através de uma política educativa, é possível a construção e preservação dessas realidades. “Acho que o poder público perde muito quando deixa de fazer isso [...] e as pessoas precisam ocupar esses espaços que estão vazios”, finaliza.
Sob a perspectiva de um ciclista
Usuário da bicicleta como principal meio de transporte desde 2017, Mateus Guimarães afirma que optou pelo veículo por ser mais saudável e econômico. No entanto, ainda sente algumas dificuldades para circular com ela em Maceió.
“Em algumas avenidas era pra existir a ciclofaixa, como na [Rua Deputado] José Lages, que a parte vermelha na lateral da avenida representaria a ciclofaixa, porém não tem a devida implantação ou respeito, acho até que o projeto para a implantação dela foi vetado”, conta.
Além disso, questiona a qualidade das ruas da cidade. “Por exemplo, há o risco de cair em buracos ou, em períodos de chuva quando as ruas alagam, é bem complicado. Em resumo, uma melhora estrutural iria propiciar uma melhora no transporte como um todo”, explica Mateus.
Como possui uma área mais restrita de circulação para realizar suas atividades, visualiza a relação da capital com as ciclovias de forma efetiva. No entanto, ainda encontra pontos que precisam ser melhorados.
“No quesito das ciclovias, a principal que é a da orla, nela poderiam ser feitas algumas melhorias para evitar acúmulo de água e manutenção dela, em algumas partes ela é muito irregular ou já caiu como em um trecho Pajuçara atrás de um bar ou ali no trecho da praia do pontal”, afirma.
“Quanto nas demais ciclovias do resto da cidade, pelas que eu vi, são muito escassas e um trajeto muito pequeno para oferecer uma diferença notável no trajeto de quem a usa, por isso acho excelente que vai ocorrer a construção de uma ciclovia na Fernandes Lima, pois vai oferecer segurança e uma maior agilidade no caminho de quem a precisa percorrer”, conclui o ciclista.
*Com supervisão da editoria