Bruno, meu irmão mais novo, tinha uma grave deficiência visual. Nasceu praticamente cego e, ao longo da vida, passou por transplantes de córneas, cirurgias diversas, colocação de lentes intraoculares e incontáveis procedimentos médicos (na maioria das vezes, dolorosos) para conseguir manter os cerca de 20% de visão que tinha apenas em um dos olhos. 

Além de formado em Turismo e Direito, Bruno era também “concurseiro”. Quando tentou arrumar os primeiros empregos entendeu que, no setor privado, as oportunidades para ele eram ainda mais limitadas e começou a estudar para concursos. 

Lembro dele voltando do centro de Maceió com um calhamaço de material de estudo personalizado, que ele mandava reproduzir em letras “gigantes” e, mesmo assim, ainda precisava da ajuda de uma lupa para ler. 

Ele passou em dois concursos. Um para a Receita Federal e outro para Justiça Federal, mas continuava estudando, continuava mandando ampliar os textos, porque queria alçar outros voos.

Queria estabilidade financeira principalmente para viajar, para ver as belezas do mundo. Não guardava dinheiro. “Investia” tudo praticamente em viagens e, se questionássemos, respondia: não sei até quando irei enxergar. Quero ver tudo o que puder. 

Essa história me veio à mente essa semana, quando escrevi um texto sobre uma lei, de autoria da deputada Jó Pereira, assegurando várias condições especiais para pessoas com deficiência visual realizarem provas de concursos e processos seletivos públicos ofertados pelo Governo de Alagoas. 

Ressalto aqui que, mesmo como assessora de Comunicação da parlamentar, não lembrava desse projeto e que Jó não conheceu Bruno, nem conhecia a história de Bruno. Foi apenas uma coincidência, que logo meu coração tomou como “homenagem”. 

Bruno morreu jovem, em 2016, do coração. Se estivesse vivo, certamente teria comemorado esse avanço.

Mas, lembrando uma frase de Saint-Exupéry que ele gostava de citar - "Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos” -, acho que ele está comemorando sim.

Desculpe a ousadia, Jó, mas no meu coração, a sua lei já está batizada. É a Lei Bruno Alencar.